Sem medo de aparentar pieguice - Ana Marangoni

Ana Marangoni -- 8-3-2009 Acredito que uma das coisas mais interessantes a caracterizar o CRUSP dos anos 60 era a ternura existente nas relações entre as pessoas, provida de uma grande singeleza, podendo até parecer, aos olhos de hoje, ditada por alguma ingenuidade.

Não sei.

Só sei que era muito bom, e de forma alguma se constituiu em obstáculo para nosso amadurecimento. Não era e não pode ser vista como sinal de ingenuidade ou infantilidade, mesmo nas despretensiosas brincadeiras. Havia, é claro, gente mais e gente menos madura, e mesmo isso levava a que muitos dos primeiros se mostrassem mais carinhosos e até indulgentes com os segundos.

E para minha grande alegria, hoje dá para sentir que essa ternura é uma das características que não se desvaneceram com o passar do tempo. Basta dar uma olhada nas mensagens trocadas entre os membros deste grupo. Como não se desvaneceu também o espírito competitivo, a garra, o interesse pelo mundo. E mais as turras, as cutucadas mútuas, o bom humor sério e quase sempre constante. É certo, parece claro, que nem tudo era ternura, nem tudo era de um relacionamento harmônico, linear, suave: o CRUSP era um paraíso, mas não um paraíso celeste. Às vezes, por certo, éramos angelicais(!!!); outras vezes... bem.....- há causos e causos a relembrar.

Alguns episódios “bonitinhos”: ainda em 1963, lá por outubro, logo após o congresso da OEA, houve uma grande ventania, e nem me lembro de onde, voaram algumas placas de isopor (material meio raro, naquele tempo) que ficaram grudadas no alambrado com que foram cercados os prédios, para o tal congresso. Pois bem: alguns de nós fizeram valer seus dotes artísticos, e foram criados bonecos de neve e outros enfeites de natal, depois colados nas portas dos apartamentos (mesmo nos daqueles que não acreditavam em Papai Noel!). Amigo secreto também era brincadeira de certa novidade, não sendo a troca de presentes a coisa principal; tenho recordações das de 1963 e 1964. Também em 1963 e 1964 moradoras não deixaram passar em branco o Dia das Crianças, e muitos dos meninos receberam seu presente (carrinho, caminhãozinho, etc.).

Muitas meninas demonstravam certos cuidados até maternais; por exemplo: algumas até aconselhavam colegas a beber menos chope, a moderar a linguagem, fumar menos, estudar mais... . Os cuidados de companheirismo eram constantes: pioneiros organizavam grupos para ir esperar, no primeiro ponto de ônibus depois do Butantã, as meninas que faziam curso noturno na cidade, principalmente na Maria Antonia; mais tarde, quando da realização de passeatas, já pelos anos de 1967/68, organizavam-se grupos para cuidar das esfoladuras e alguns hematomas dos que porventura os sofriam.

Os rapazes tinham, no geral, cuidados que hoje talvez soem até engraçados, como o de não levar muitas das meninas (as que pudessem sentir-se chocadas com palavrões, por exemplo) a festas que julgassem mais “pesadas” (entenda-se: onde se dissessem muitos palavrões, ou onde se passasse além da conta na cerveja, e coisas assim; nada a ver, porém, com as baladas ou raves de hoje).

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