Registros e Conjecturas - Álvaro Rodrigues dos Santos

Cedendo a uma carinhosa, e bondosa, pressão de amigos, mas também convencido de que valesse a pena, resolvi reunir alguns poemas e apontamentos que me brotaram da alma, alguns poucos por certo do fígado, em momentos especiais de minha vida. Por obra e mérito de minha adorada mãe Didi, poeta que era, e com quem divido a culpa, portanto, ti ve contato com a poesia desde muito cedo. Arranjou-me até essa irrequieta mãe um programa na Rádio Difusora ZYN8, de Batatais, minha cidade natal, em que eu lia poemas, cada programa dedicado a um grande poeta. Até hoje tenho justificadas desconfianças que ela foi por muito tempo minha única ouvinte.

De tal sorte que, com alguma naturalidade, eu me via às vezes expressando de forma poética sentimentos mais angustiosos. Dessa fase púbere praticamente nada registrei. Ou por algum esquecimento, ou talvez mais provavelmente, por algum pudor machista diante do certo escárnio que viria da “turma”. Mas quis a vida, e Gracias a la Vida, que circunstâncias pessoais e históricas, muito próprias da Geração 68, nascido que sou em 1942, levassem-me a protagonizar com muitos um tempo pleno de acontecimentos de grande intensidade, que nos levou todos, generosos que fomos, de roldão em suas caudalosas ondas, por vezes maravilhosas, por vezes tenebrosas. Por ser um cacoete pessoal, também nessa fase adolescente-adulta continuei a expressar poeticamente alguns sentimentos mais intensos e íntimos, dessa vez, ao menos em alguns casos, com o devido registro.

Foi também essa época madura que me permitiu descobrir e recuperar a incrível beleza e magia que havia sido minha infância em Batatais, pequena cidade da Alta Mogiana, no Estado de São Paulo, e, em grata surpresa, perceber o quão importante foi para a definição de meu espírito; lem- branças que acabei também por transformar em alguns registros poéticos. Com a pena em mãos, resolvi também juntar alguns apon- tamentos factuais e algumas reflexões e lembranças que julguei ajudar a melhor esboçar minhas relações com o tempo e as circunstâncias que me foram dados viver.

Em tema bastante diferente, achei oportuno incluir nesse livro um texto meu, ABENÇOADOS PALAVRÕES, que andou rodando a Internet sob outras pretensas autorias, e do qual me orgulho muito, no qual penso que tive a felicidade de bem registrar o significado e a importância de alguns palavrões a que comumente nos socorremos para melhor expressar o que nos vai pela alma.

Por término, sou geólogo, profissão e Ciência a que dediquei coração e mente e que me levou a níveis mais ambiciosos de compreensão da vida. Por óbvio que essa condição também se reproduzisse em alguns de meus devaneios literários. Enfim, vão aí pelo livro todas essas coisas, com pouca ou nenhuma ordem lógica ou cronológica. Peço aos leitores que me sejam lenientes em seu julgamento literário. Declaro desde já que não me considero um poeta. Aliás, a esses devo desculpas por ter-lhes tomado emprestada, sem maiores explicações e competência, sua arte.

Álvaro Rodrigues dos Santos, março de 2017