Sobre a comunidade cruspiana de 63-68

Do Jornal Vanguarda, maio de 1968:

BLOCO G - UMA FASE

A TOMADA DO BLOC G PELOS ESTUDANTES, NUMA SITUAÇÃO DE FATO EM QUE A ADMINSTRAÇÃO DO CONJUNTO RESIDENCIAL DE MOSTRA INCAPAZ DE RESOLVER O PROBLEMA DOS 528 CANDIDATOS PARA APROXIMADAMETNE 300 VAGAS EXISTENTES, É APENAS UMA FASE DA LUTA ESTUDANTE X POLÍTICA EDUCACIONAL DO GOVÊRNO, ESTAMOS NA OFENSIVA E DEVEMOS APROVEITAR ESTA FASE PARA FORTALECER AINDA MAIS A ORGANIZAÇÃO, EM VISTA DE NOVOS PROBLEMAS QUE SURGIRÃO, INEVITÀVELMENTE.

Em 1963, os estudantes invadem os 6 blocos do conjunto Residencial. Os blocos foram construídos para alojar os atletas dos jogos Pan-Americanos e em seguida abandonados. A Administração da Universidade, sob a alegação de que não existiam condições de vivência, resolvera não entregar os blocos para residência. Começa aí a luta Estudante X Administração. Em 1965, o ISSU decide o aumento das refeições para cobrir o deficit orçamentário. Passa então a vigorar no Conjunto Residencial a política econômica de auto-suficiência. A Educação não é encarada como investimento e sim um bem de consumo.

A partir de 1964 se impõe a necessidade de integração do capital nacional com o capital norte-americano. Em função disso são modificads as nossas instituições, principalemtne a Educação.

Em 1967, surge a crise dos candidatos à residência no Conjunto Residencial que não encontram vagas. Nos anos anteriores não houve aplicação de verbas na construção de novos blocos, e, pelo contrário, ocorrera apenas a destruição de um dêloes por parte da Reitoria, eliminando assim 200 vagas que seriam destinadas a residentes, já numa 1a tentativa concreta de evitar a concentração de estudantes na Cidade Universitária. O Reitor Gama e Silva visava satisfazer ao capricho de ter uma rodovia de acesso direto à Reitora. Os estudantes sentem que não podem mais reagir passivamente diante de tais desmandos. Evoluem para formas de luta mais agressivas - incendeiam o "submarino amarelo", uma bela máquina amarela trazida para derrubar o bloco, desvirtuando o Plano de Construção da C.U. Os candidatos de 1967 invadem o bloco F. Concluiu-se que sòmente pressionando poderiam obter o atendimento de suas reivindicações. Os interêsses da Administração são opostos aos nossos e não é possível conciliação. É possível apenas uma vitória parcial de quem aglutinar mais fôrças, mas que a luta perdura. Torna-se enão evidente a necessidade de organização dos estudantes. Isto os excedentes do ano passado peceberam.

Após a tomada do Bloco F, a Reitoria tentou passar à ofensiva através da invasão policial. Não tendo obtido o sucesso esperado passou a intimidação psicológica através da Portaria GR 373. Os estudantes derrotam na prática tal tática pois se organizam para a adoção de formas de luta que se impunham. Concentraram-se na Reitoria e fizeram ouvir suas opiniões. E só assim foi concluido o bloco G. A tomada do bloco G pelos candidatos neste ano é uma fase dêsse processo. É a luta contra a implantação do projeto Mec-Usaid. O Govêrno pretende, através de cortes constantes de verba, levar a nossa Universidade à falência e depois transformá-la em Fundação. A Comissão de Pesquisa, formada pelos candidatos à residência ao CRUSP, levantou dados sôbre o problema de verbas, os quais vêm comprovar o acima dito. De 1964 até 1968 o corte de verbas foi da ordem de 86%. Agora, o governador Abreu Sodré, acaba de cortar em 92% a verba orçamentária destinada aos exercícios de 1968, 69 e 70 da C.U., reduzindo de 230 milhões de cruzeiros novos para apenas 22 milhões.

O ISSU também sofreu uma redução de 80% no seu orçamento. Para 1968, o deficit é da ordem de 600 mil cruzeiros novos. Os funcionários têm pagamento previsto até os próximos meses. É a falência do ISSU. Tal situação é refletida na demora da lista de convocação dos novos residentes, na paralização da consruçaõ de novos blocos e an precária manutençaõ do Conjunto Residencial. Os estudantes retomam então a ofensiva ocupand o bloco G. O saldo imporntante que deemos retirar nessa fase é o frolalecimeno de nossa organização par que possamos dar continuidade à oposição à polítca educacional do Govêrno.

Notas:

1 - Redação fiel à publicação original. 2 - ISSU = Instituto de Saúde e Serviço Social da Universidade. 3 - "Submarino Amarelo" nome dado à grua, um guindaste enorme, trazido para desmontar o Bloco H. A estrutura de 6 andares dos Blocos que formam o CRUSP - Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo é do tipo pré-fabricado e seus componentes estruturais (lajes, vigas e pilares) são montados e parafusados. O nome é uma alusão ao submarino amarelo da música dos Beatles que fazia muito sucesso na época.