HOMEM QUE MATA O PRÓPRIO HOMEM

HOMEM QUE MATA O PRÓPRIO HOMEM

Acostumado a não esquentar a cabeça o brasileiro decide pela intuição. Sem se aprofundar nos prós e contras 61% dos brasileiros consideram que a posse de armas de fogo deve ser proibida por representar ameaça à vida de outras pessoas. Tal é o resultado da pesquisa do instituto Datafolha divulgada segunda-feira (31.12). Afinal, arma de fogo só tem uma função, matar.  

O presidente Jair Bolsonaro assinou nesta terça-feira (15), um decreto que facilita a posse de armas de fogo. O Presidente deseja que seja hábito do cidadão o uso de arma de fogo e ensina fazendo gestos com os dedos das mãos. O incentivo à autodefesa parece ser coerente. É gritante o número de mortes por violência no dia a dia e causa confusão à ponto de virar moda a justificativa para matar.

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, incentiva a polícia a atirar em bandido de imediato; Luiz Nabhan Garcia, secretário de Assuntos Fundiários, defende assassinatos de camponeses sem-terra como sendo legítima defesa; Solange Lopes (39), lojista do Mato Grosso do Sul, criou o grupo “Armadas e Empoderadas” para ensinar as mulheres a disparar arma.

 “Os profissionais da violência somos nós” disse o General Mourão, vice-Presidente, referindo-se aos militares e ao uso da força pelo Estado (6.9.18). É uma frase para se prestar atenção. O Estado é o responsável pela segurança do cidadão no mundo civilizado, ainda assim, com sacrifício de policiais experientes mortos todos os dias.

A essência da solução do problema está na aplicação incondicional do “Não matarás” bíblico, suprema perfeição civilizatória. A apologia da arma de fogo coloca a nação na encruzilhada entre a barbárie e a civilização. Entre a perpetuação dos costumes de Caim na humanidade ou um meio de controlar os instintos e impulsos emocionais humanos. Entre o vício de matar e a virtude de respeitar a vida na humanidade seja como, quando, onde ou de quem for.

Sócrates (470-399 a.C) trocava em miúdos estas questões aos atenienses ao percorrer ruas e praças de Atenas.

Demonstrava a moral sobre os fatos e ensinava a relação de responsabilidade do indivíduo consigo e a reciprocidade que deve existir com a sociedade. 

Numa das conversas com Críton concluiu: “Não se deve, portanto, responder à injustiça com a injustiça nem fazer o mal a ninguém, qualquer que seja o mal que nos tenha sido feito”.

É o modo correto de decidir entre o bem que devemos praticar e o mal que precisamos evitar, sem excessos, com moderação, pois deseja o certo e o justo. Justiça, coragem, prudência e moderação são as virtudes cardeais desde a antiguidade grega. A Grécia é o berço da civilização.

“Bárbaro”, também é palavra de origem grega. Designa as nações e as pessoas primitivas, atrasadas e brutais. A oposição entre bárbaros e civilizados existe desde tempos remotos e reflete a própria luta pela evolução social da humanidade em todos os tempos.

O homicídio, o homem que mata o próprio homem, é o mais abominável dos defeitos humanos e só encontra abrigo no indivíduo vicioso: irresponsável, sem caráter e medíocre. É o fantasma que ressurge nestes tempos novos forçando o retorno ao passado bárbaro. A intuição brasileira se sintoniza melhor com a aula que Paulo dava aos Coríntios quando dizia “tudo me é lícito, mas nem tudo me convém” e recusará possuir arma de fogo.

Porque o homem de virtudes age com fidelidade ao futuro, pois ele sabe que será o que se fizer no agora.