NEM SEMPRE GANHANDO

NEM SEMPRE GANHANDO

A ordem do presidente Bolsonaro para os quartéis festejarem no próximo dia 31 o aniversário de 55 anos do golpe militar de 1964 lembrou o caso de Hiroo Onoda.

Oficial do Exército Imperial Japonês na 2ª Guerra Mundial, Hiroo Onoda foi enviado às Filipinas pelo Major Taniguchi. Em 1974 ele continuava em guerra na mata solitário. O ex- Major Taniguchi, que havia se tornado funcionário de uma livraria, teve que vestir o antigo uniforme do Exército Imperial e ir as Filipinas para convencer Hiroo que a guerra havia acabado há trinta anos e dar a ordem para ele retornar ao Japão.

Faz sentido voltar os ponteiros a história, como no caso do Major Taniguchi, para fazer o outro cair na real. O Japão havia sido derrotado, se ele tivesse se deslocado para comemorar o Exército Imperial seria óbvia estupidez.

Após 21 anos (1964 – 1985), a democracia brasileira venceu a ditadura militar. Muitas feridas não foram cicatrizadas. Famílias ainda procuram por mortos e desaparecidos em busca dolorosa dos restos mortais de filhos, esposos, parentes.

Entretanto, na imaginação do presidente o regime militar foi a época áurea do país. Vai mais longe. Admira o holocausto que banhou de sangue toda América Latina dessa época de ditaduras. O Coronel Brilhante Ustra, torturador e sequestrador condenado ele considera um herói brasileiro. Rasga elogios aos ditadores sanguinários e assassinos de Augusto Pinochet do Chile e Ernesto Stroessner do Paraguai numa demonstração de estar tomado pelo espírito das trevas desse tempo.

Esse estado de alma domina o pensamento o fantasma do socialismo e comunismo chamados de ‘marxismo cultural’, vê inimigo por toda parte a ser combatido e uma única pauta, a de costumes. As medidas frívolas criam atritos e inviabilizam o ministério da Educação. As declarações estranhas da ministra de Direitos Humanos assombram a população. Comete erro de diplomacia o ministro das Relações Exteriores ao eleger, publicamente, Donald Trump salvador do ocidente. A perseguição do ministro do Meio Ambiente ao exonerar nesta quinta-feira (28), o servidor que multou Bolsonaro por pesca irregular em área de reserva ambiental em 2012.

É o que a deputada Janaina Paschoal, musa do impeachment de Dilma e defensora do atual governo, quis dizer pelo Twitter (27.03), “Bolsonaro não consegue sair de 64 e as coisas não caminham bem”. 

A revista britânica “The Economist” (28.03), completa: “Ele dissipou o capital político em seus preconceitos, por exemplo, pedindo que as Forças Armadas comemorassem o aniversário, em 31 de março, do golpe militar de 1964". A revista chama-o de “aprendiz de presidente” e diz que seu mandato pode ser curto. Ainda menciona a ligação da família Bolsonaro com a milícia carioca acusada de matar a vereadora Marielle e o motorista Anderson.

A imprensa britânica reflete o humor do mercado que já o apelida de “Dilma de calça” e se manifesta pela alta do dólar, dos juros, na queda da bolsa de valores e a ameaça de retorno da inflação.

Na governança pipocam conflitos contraproducentes entre legislativo e executivo, STF e lava-jato, ministério da justiça e legislativo, militares do executivo e a ala ideológica, entre o MPF, STF e juízes de primeira instância, Bolsonaro e a imprensa e, entre si, os partidos da base do governo. A pauta centrada na reforma da previdência, que irá gerar exclusão dos mais pobres, dará origem ao conflito com o povo.

Vai se dando conta que Bolsonaro não é um presidente aplicado. Tampouco, uma liderança forte para pôr ordem no pandemônio. Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados receita: “Bolsonaro tem que parar de brincar de presidente”. Nem sempre ganhar é suficiente. Se fosse funcionário teria sido dispensado após o período de experiência de noventa dias.