A MAIS TERRÍVEL DOENÇA

A MAIS TERRÍVEL DOENÇA

A pastora evangélica Damares Alves, ministra da Mulher, da Família de dos Direitos Humanos do governo Jair Bolsonaro escreveu mais uma página da peça do teatro nacional.

Ela afirmou que a princesa Elsa, do desenho animado “Frozen”, da Disney, é lésbica. Explicou:

“Sabe por que ela termina sozinha em um castelo de gelo? Porque ela é lésbica e incita meninas de três anos a sonharem com princesas e não príncipes”.

A declaração provocou a apresentadora Xuxa Meneghel que criticou nas redes sociais:  

 “… mas, meu Deus, onde o mundo vai parar com tanta ignorância, falta de respeito com as escolhas ou condições das pessoas?”

Segue-se o comentário feito pela cantora Anitta

 “De chorar”.

A questão criada pela Ministra é em si uma bobagem sem tamanho. Ainda que seja, serve de exemplo para se tirar uma conclusão.

Xuxa e Anitta discordaram, o que é um direito legítimo da democracia, não precisaram ofender a pessoa de Damares.

Se um terceiro, seguidor bolsonarista, tomar as dores da Ministra pode se esperar a reação com ofensas. Chamaria as atrizes de pessoas azedas, que despejam todo ódio e rancor que há dentro delas, um nojo. O preconceito sexual que é o principal a ser debatido seria esquecido.  Para o fanático o importante é combater a pessoa não a ideia.

A conduta bolsonarista é padrão, se tornou um marco se queira, quem tem opinião contrária é inimigo.

A alimentação do prazer de sentir ódio vem de cima. O exemplo categórico é o próprio pai do bolsonarismo, o escritor Olavo de Carvalho. Ele é vezeiro em ofensas e ataques, com uso de palavras de baixo calão, contra pessoas do próprio governo como o vice-presidente Hamilton Mourão, o general Carlos Alberto Santos da Cruz, da Secretaria de Governo e o ex-comandante do exército, general Villas Boas da Secretaria de Segurança Institucional.

O comportamento agressivo, mal-educado, é típico da Era Bolsonaro. Ele se apresenta de cima a baixo, de mamando a caducando, provocando a guerra de todos contra todos.

Michel Montaigne (1533-1592), filósofo do século XVI, se preocupou em pensar o certo e o errado na conduta humana tendo concluído: “De todas as nossas doenças, a mais terrível é desprezar o próprio ser”.

A presença dessa doença a contaminar a nação é indicação de que a civilização do brasileiro está de volta ao passado.

É a volta do ‘homem que é lobo do próprio homem’, descrito por Thomas Hobbes (1587-1666) cem anos depois de Montaigne.

A obra de Hobbes tem o título sugestivo da atualidade: “Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil”. Nela o homem é lobo do próprio homem e Leviatã é o soberano (presidente da República no caso).

Hobbes mostra que a essência da soberania (Leviatã ou presidente) consiste, unicamente, em ter poder suficiente para manter a paz.

A paz é obrigação intransferível do soberano, ao mesmo tempo, é o atributo que lhe confere legitimidade.

O que se tem visto é o oposto.

O governo não deslancha, gira em falso desde o primeiro dia a consumir o tempo com divergências e atritos pessoais numa prática de irracionalismo político.

A última do Presidente foi a ofensa de “idiotas úteis”, “imbecis” e “massa de manobra” a milhares de manifestantes, de centenas de cidades, no protesto por verbas na educação ocorrida quarta-feira (15.05). Abdicou da condição de soberano que procura a paz para agradar apenas aos seus filhos e seguidores que são briguentos compulsivos e sentem prazer na discórdia.

O mal maior não está na economia do país. Está da conduta humana.

O país vai ter que se virar para sair dessa doença terrível sem impeachment, golpe ou guerra civil que se aponta no horizonte;