A TRANSIÇÃO DA CULTURA LINDOIENSE

A TRANSIÇÃO DA CULTURA LINDOIENSE

Há grande diferença entre cultura e divertimento.

Entre tantos significados que se possa dar à cultura um deles é a de que trata de uma herança social.

Todos os costumes e habilidades aprendidas pelo ser humano, de geração em geração, acaba-se tornando um padrão de cultura de um povo. Um bom exemplo é a cultura alimentar brasileira de consumir feijão.

Nem sempre foi assim.

Esse hábito alimentar foi se incorporando aos poucos na sociedade e transmitido historicamente aos dias atuais.

O padrão alimentar brasileiro está consagrado como marca reconhecida mundialmente como a feijoada.

Há inúmeros exemplos como o do feijão, mas é suficiente para se entender que os padrões culturais da população estão ligados diretamente ao seu processo civilizatório.

Cultura é aprender fazer e ser capaz de repetir o que aprendeu.

Diferente da instrução escolar oficial a população, como um todo, aprende consigo mesma e assim se torna cada vez mais civilizada.

É possível acontecer diversão, prazer sem que haja correspondente aumento de cultura.

Cultura e entretenimento não se confundem. Pior, quando a cultura é banalizada a tendência humana para o divertimento passa a ser o bem maior.

O Ministério da Cultura foi criado governo Sarney (1985), e transformado em Secretaria de Cultura por Temer que recuou recriando o Ministério.

Bolsonaro retomou a ideia inicial de Temer. Acabou com o Ministério criando a Secretaria de Cultura anexada ao Ministério da Cidadania primeiro e depois ao Ministério do Turismo.

O autoritarismo ficou evidente em um vídeo no qual mostra a patética figura de Roberto Alvim, então titular da Secretaria de Cultura, no qual imita Adolf Hitler e cita frase do sinistro ministro nazista Goebbels.  O descuido lhe custou a forçosa exoneração do cargo por Bolsonaro.

Recentemente, com a nomeação da atriz Regina Duarte para titular da Secretaria, Bolsonaro tem manifestado intenção de voltar ao status de Ministério como Temer já havia feito.

É possível concluir por esse vai-e-vem o predomínio do autoritarismo, a falta de sensibilidade e de percepção da importância fundamental da cultura para o processo civilizatório da nação.

Estes fatos trazem também uma reflexão importante sobre cultura em nossa cidade.

Os cuidados com a cultura estão sob a responsabilidade da Secretaria de Turismo, cultura e lazer. Uma salada.

Turismo e lazer são atividades complementares entre si ligadas ao prazer de viver.

Cultura é atividade constante, diária, que se produz e se acumula nos costumes locais.

Óbvio, os tratamentos para um e para outro são necessariamente diferentes.

Tomando como exemplo a recente realização do Festival de Verão, atingiu os objetivos de turismo e lazer e pouco ou nada à cultura.

É o que se pode entender como banalização da cultura.

O evento cultural provoca incentivo e dissemina iniciativas culturais. Incentiva os jovens a exercerem a criatividade e a revelar seus talentos. Como se disse anteriormente, a população aprende consigo mesma.

Infelizmente o Festival de Verão, embora muito onere os cofres do município, se pautou pelo espetáculo com pouca preocupação em utilizar os artistas sertanejos da cidade que são os reais fazedores de cultura musical local.

É imprescindível que os músicos e os artistas de todas as áreas sejam constantemente expostos à população como forma de incentivo à formação de novos valores.

Caso contrário será desestímulo ao próprio artista.

Cultura, como qualquer bem humano, necessita de preservação. A Banda Américo Pasquali é exemplo de morte de uma atividade cultural que foi esquecida. E necessita ser resgatada.

Do ponto de vista turístico, menos onerosos e originais são festivais e eventos que contam com artistas locais. São estimuladores da população e mais atrativos ao próprio turista.

Os espetáculos com artistas contratados de fora são repetições do que já assistiu em sua cidade de origem. Evidentemente, não estão na Estância por esse motivo.

Fazer a transição da situação atual importada para uma sonhada cultura local é o que se espera acontecer já no próximo Festival de Inverno.

  Celso Antunes

Águas de Lindoia