Ana Marangoni, amiga e mestra, foi uma das geógrafas brasileiras mais dedicadas à Geografia que conheci. Mas não só uma dedicação às aulas, aos alun@s ou às pesquisas ou orientações... Para além disso... Dedicada à formação de pessoas que escolheram a Geografia como profissão. Mas não apenas uma escolha profissional... Para além disso... Uma escolha para ver, entender e viver o mundo.
Mas não um mundo apenas geográfico... Para além disso... Um mundo com a paixão de estar nele, de entender e compreender o que há nele e o que há dele em nós... Ana Marangoni tinha essa paixão e ensinou isso a quem esteve com ela esses anos que viveu a Geografia e a vida de professora de forma plena.
Era impossível ter uma conversa superficial e corriqueira com ela, mesmo que os assuntos exigissem isso... Porque com sua delicadeza, leveza, ética e perspicácia iam revelando camadas que não tínhamos visto... E saíamos melhores da conversa com ela! Na parte dos agradecimentos de minha tese, reproduzo o que escrevi a ela quase 20 anos atrás: “A Ana Marangoni, pela maternidade acadêmica, amizade e conselhos sensatos e sábios, sempre importantes em minha vida profissional e pessoal.”
Hoje, 5 de abril de 2021, partiu a querida amiga e mestra Ana Marangoni, uma professora que ensinou muitas pessoas sobre muitas coisas... Aprendi a admirá-la por sua inteligência e intelecto e a amá-la por sua alma e sabedoria! Muito obrigado!!!
Saudades!!! Nosso amor está com você sempre!!!
Yuri Tavares Rocha
Foto: Profa. Dra. Ana Maria Marques Camargo Marangoni, em aulas de campo realizadas em setembro de 2009 em sua cidade natal, Itararé (SP)
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Ana Maria, uma pessoa tão querida com quem tive a honra de conviver em estágios e trabalhar em cursos. Sua paixão por ficção científica tornava as conversas sempre inquietantes. Pessoa carinhosa, ética e companheira. Deixa muita saudade!!!!
Quando entrei na faculdade, duas alunas cruspianas me deram trote: Kikuko Abe e Ana Maria Marangoni. As duas eram alunas de pós-graduação. Kikuko entrou primeiro na sala com a calourada já acomodada e pediu redações com pegadinhas. A minha foi "A linha do Equador e o seu novelo de origem"...
Quando já estávamos desconfiando da Kikuko, Ana Maria entrou de avental branco, carregando vários livros. Estava acompanhada da Claudette Barriguella, que se apresentou como estagiária da professora.
Marangoni passou um pito na Kikuko por tentar nos enganar e deu sua aula-trote, nos convencendo que era pra valer. Listou uns 10 livros em alemão, com títulos difíceis, compostos por palavras de extensão quilométrica... Nos levou para um pátio e passou um levantamento expedito até à noite. Ao entregarmos, extenuadas/os o mapeamento feito ela deu boas gargalhadas e nos mandou ser mais espertas porque a universidade nos cobraria isso. Daí se apresentou e nos ofereceu ajuda quando precisássemos.
Na pós-graduação, fiz estágio no laboratório que ela e Claudette coordenavam. Em 1983, quando integrei a equipe de Ciências Sociais, na Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, coordenei cursos de formação para professores do ensino fundamental em convênio com a USP, PUC, UNESP, Unicamp. Toda a formação dos professores do Vale do Ribeira, fiz com a Marangoni. Ela tinha um jeito tão delicado para falar com os professores... e tinha um ponto alto, quando ela explicava a relação da loteria esportiva e a política financeira....
Ana não ia às festas mas estava sempre presente. O melhor PPT foi realizado por ela, correspondente ao encontro de 2017, na casa da Sonia.
Muita tristeza....
Marísia Margarida Santiago Buitoni
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Meus sentimentos aos familiares da Aninha.
O que pensar, o que fazer, como entender e aceitar de pronto estas "peças" que a vida nos apresenta. Estamos com pouco sossego, aguardando notícias de perto e eis que Marisinha me envia notícias de longe. Aninha.
É como se um manto negro nos cobrisse a cabeça e em seguida as lágrimas chegassem para lavar nossos olhos e quem sabe nossa alma. Muita surpresa, tristeza e lembranças bailam na nossa memória porque a saudade, sabemos, levamos no coração. Quando caloura no Crusp recebi por muitas vezes, no meu apto, visitas das "veteranas".
Aninha era uma delas, que com Claudete nos visitava esclarecendo solidariamente o "modus vivendi" do CRUSP. Só para reforçar seu fino humor, e esparramar um pouquinho de medo, contava algumas "maluquices" e situações que aconteciam por lá, assim como a invasão da polícia quando da guerra dos fogões e outras "estórias" vividas à época.
Foi uma das primeiras cruspianas a ouvir-me declamar a "Benção do Papai" de Guiaroni. Gostou e pediu bis. Me lembro quando aos sábados o Rosas (tendo como auxiliares Mineiro, Martinho Botinha e Piauí) nos treinava no basquete, Aninha às vezes passava pela quadra, ficava nos observando e vez ou outra gritava algum palpite, sempre tirando um "sarro" de alguma atleta. Poucas vezes nos encontramos no restaurante porque a praia da Aninha sempre foi o prédio da HistorGeo e sua paixão a Geografia em toda amplitude.
Morou no bloco D onde por vezes nos tropeçávamos no corredor e lhe dizia, "me dá uma carona"...Sorria, jogava seu braço sobre meus ombros, curvava um pouco as costas e lá íamos caminhando "hermanamente" corredor afora.
Apesar da seu físico sempre atribuí à Aninha uma grandeza que não sei bem como explicar. Em conversa sorria mostrando os pequenos incisivos moldurados pelos finos lábios. Sorria com os olhos, apertados mas com luminosidade.Suas pálpebras, levemente caídas, os protegiam. Seus cabelos eram curtos, às vezes batidos, cor de milharal, já na maturidade.
Ultimamente e por vezes participou da nossa lista de email sempre com novidades e surpresas. Como técnica e campeã de "Jogo de Botões" nos reportou à infância dos anos em que ser campeã deste jogo era ter mais moral do que ser um Rei Pelé.
A separação de longos anos não apagou as lembranças tão ditosas de uma criaturinha meiga, espirituosa, bem humorada, dedicada, educadora por vocação, excelente profissional, amiga que amava a vida conquistando o amor de todos.
E agora ela está bem longe (ou perto?) a contar estrelas, a revirar os continentes, a saltar de nuvem para nuvem bem ao gosto da jovem "sapeca" que eu conheci. Aninha parte solitária, como creio que passou parte da sua vida, porém, repleta de carinho pelos que a conheceram. E até, somente por isto, sua jornada valeu. Quando lembrar da gente Ana Maria Marangoni, envie um pouquinho da sua luz para nós. E esteja bem na Casa do Pai.
Cacilda Salete Silva (Sissi)
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Emociono-me ao escrever estas linhas dedicadas a Ana Maria Marangoni, uma colega muito especial, cujo desaparecimento deixou uma imensa tristeza e um vazio infinito no coração de todos nós.
Possuidora de vasta cultura geográfica e humanista, sua postura sempre foi de simplicidade e despretensão ganhando, por isso, a admiração de todos. Sempre mantive com ela relações muito próximas de amizade. Convidou-me inúmeras vezes para um fim de semana em sua casa, em Itararé, mas sempre fui adiando e a viagem não se realizou.
Participou, comigo, de incontáveis bancas de Mestrado e Doutorado e sempre foi uma tarefa gratificante.
No último artigo que escrevi para o Boletim Paulista de Geografia "A contribuição da Universidade de São Paulo para a construção da geografia brasileira", publicado em sua centésima e mais recente edição, seu nome figura na primeira página como agradecimento pelas importantes contribuições que ofereceu.
Estamos sofrendo muito com sua partida.
Adeus, querida Ana.
Prof. José Bueno Conti
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Aproveito o emocionante texto do Professor José Conti para fazer uma afirmação frente às perdas das Professoras Doutoras Ana Marangoni e Nelí Thierry :
Para mim cada professor do departamento de Geografia é uma galáxia IC 1011 inteira inteira de possibilidades de conhecimento e aprimoramento do desenvolvimento de humanidade - no melhor que esse substantivo pode significar.
Me vejo como um planetinha, ali num canto tentando capturar alguma luz , tentando capturar conhecimento , adquirir humanidade e quem sabe um dia me converter em estrela. Não sei se chego ao nível de galáxia , porém apenas brilhar bem com o conhecimento produzido pelos professores do departamento de Geografia já me fará realizado por imenso. Eu nem me tornei um cientista geográfico de fato ainda , mas assim como Isaac Newton - eu já consigo enxergar mais longe , por estar apoiado nos ombros dos gigantes do departamento de Geografia.
Obrigado ao trabalho realizado é deixado para semear novas mentes feito por profissionais como as Doutoras Nelí Thierry e Ana Marangoni, agora falecidas porque é essa a fronteira final , a última região a ser explorada por todos nós após o último batimento cardíaco.
Prof. Ricardo Lima da Silva