“POBRE” PALAVRA EM DESUSO
A notícia desses dias que ganhou manchete mundial foi a epidemia de coronavirus na cidade chinesa de Wuhan pela ameaça global de virar pandemia.
Para proteger o mundo as autoridades chinesas tomaram medidas urgentes jamais vistas sendo elogiadas pela OMS – Organização Mundial de Saúde.
A principal delas foi o isolamento de Wuhan e arredores mantendo 56 milhões de chineses em suas residências.
Para imaginar a dimensão basta saber que é maior que toda população do Estado de São Paulo com 44 milhões de habitantes somada à do Rio Grande do Sul com 11 milhões de habitantes.
Isolamento significa proibição de circulação por qualquer meio, a pé ou de transporte, na cidade e impedimento de entrada ou saída de pessoas.
Por felicidade ainda não foi detectado nem um caso no Brasil.
Se o Brasil estivesse envolvido na tragédia, hipótese que batemos três vezes na madeira para que nunca aconteça, nossa cidade seria local de alto risco.
Nossa cidade, por ser turística, recebe visitantes de todos os cantos, como sabemos, até mesmo de fora do país.
As medidas sanitárias chinesas aplicadas aqui obrigariam ao isolamento da população em suas casas e a manter os turistas confinados nos hotéis para evitar total contato do visitante com o lindoiense.
A população já está acostumada aos dias como os de feriados de ruas desertas e comércio fechado no qual não encontra loja, padaria, mercado, quitanda, bar ou até mesmo farmácia em funcionamento.
Os turistas igualmente não reclamariam.
Com cinco refeições diárias, sala de convenção, piscina, playground, recreação interna, salão de jogos, bar, bailes e shows diários incluídos no pacote turístico já são mantidos em confinamento em dias normais.
A falta de contato do turista de hotel com a população é uma característica particular nossa que fez surgir o apelido de “cidade dormitório”.
Observar o turista é possível, quando aponta sua cabeça numa janela de hotel numa imitação de relógio cuco antigo. É desse modo que ele vê a exuberância do verde das montanhas e pode confirmar que aqui esteve.
O “turismo de convenção”, principal atividade econômica atual da Estância, é desenvolvido com a segurança do transporte de presos para os campos de concentração da 2ª Guerra Mundial.
Os ônibus chegam lotados, desembarcam os participantes que serão envolvidos na programação da convenção durante todo tempo. Ao finalizar são reembarcados e retornam as suas origens.
O mais experiente epidemiologista brasileiro não será capaz de detectar a transmissão de qualquer moléstia por uma nota de cinco reais que seja, do turista para uma pessoa da população local.
A população lindoiense pode se considerar segura em termos de contaminação por doenças externas.
A mesma certeza pode ter de que não terá ganhos financeiros significativos com os visitantes.
Há dias que a cidade se torna uma Disneylândia com eventos de carros na Praça Adhemar de Barros atraindo milhares de visitantes. A Praça é prejudicada pelo mesmo potencial destrutivo de uma nuvem de gafanhotos.
Mas, o balanço contábil dessa atividade e o resultado do benefício financeiro do turismo para o município, não se conhece.
É necessário redimensionar economicamente a atividade turística. É urgente repensar o equilíbrio do custo-benefício dos gastos públicos e reajustar a tributação à atualidade do turismo local.
Temos pobres e em situação de extrema miséria em nossa cidade.
A preocupação com a pobreza desapareceu até mesmo do discurso do presidente Bolsonaro.
A palavra pobre desapareceu do vocabulário.
- “Não existe pobre em nossa cidade” disse-me, categoricamente, um vereador.
- “A menos que não se possa mais confiar nos dados do próprio Governo Federal”, respondi.
O Ministério da Cidadania informa pelo “Cadastro Único da Bolsa Família” aproximadamente 3,82 % da população lindoiense, cerca de 288 famílias, são beneficiárias do Bolsa Família (Dados de setembro de 2019). Há mais de 1.500 famílias que ainda não a recebem.
- “Sem o programa estariam em condições de extrema pobreza”, conclui.
Votei nesse vereador.
Pior, devo votar nele de novo.
É boa gente, apenas desconhece nossa triste realidade social.