Eleito vereador, Antônio de Oliveira tratou de corrigir a história. A Rua Cabo Veras passaria a ser chamada “Conquista”. O coronel Balbino adquiriu as terras de Manoel Francisco, grileiro. Os títulos eram podres. Os posseiros ali estavam há tantos anos. O coronel conseguiu a ordem de despejo. A polícia não dispunha de efetivo para cumprir a ordem.
Naquele tempo os que não tinham ardor por qualquer atividade, ou pendor para o trabalho, ingressavam na corporação policial. Veras ganhou lustro de uniforme de soldado. Se dispunha com garbo de general a provocar suspiros das donzelas. Os ouvidos atentos do Padre Carmelo captavam as investidas leoninas nas incautas presas. Veras era fonte do pecado. A promoção de soldado a Cabo, quando veio, sabia como aconteceu. Foi pedido de Valdete para que o coronel usasse sua influência na corporação.
Valdete era amante. Passou à união estável quando o coronel se enviuvou. Mulher mal falada, artífice de intrigas, reconheceu a celebridade de Veras entre as mulheres. Haveria de disputá-lo com as desafetas e se coroar de orgulho pela vitória. Passou a insistir com o moço. Veras resistia. Ocultava a paixão por uma mulher proibida, esposa de Atílio, soldado como ele. Jurema era esculpida à modelo, morena alta, cabelos compridos pretos, olhos claros como faróis que cegam.
Atílio, ingênuo, caçava passarinhos nas horas vagas. Gastava tempo nas matas. Zelo algum dava às portas da frente ou à dos fundos da casa onde Veras aparecia nas mesmas horas vagas. Valdete convenceu o coronel a negociar com os posseiros. Conseguiu que o Cabo Veras fosse acompanhante nas idas constantes e colou no policial. Encurralado, confessa amar a única mulher, Jurema.
Balbino ao chegar encontrou a mulher sentada ao sofá com as mãos no rosto aos prantos. Ela estava humilhada pela derrota o que facilitou a cena de abatimento moral:
- Ele me agarrou. Tentou arrancar minhas roupas. Tive que fazer de tudo para escapar. Maldito Cabo Veras!
O ódio tinha poder de silenciar o coronel para produzir seu veneno. Tempo depois tomou a frente do despejo na fazenda. Comunicou ao Sargento, iria trazer soldados da região e alojar no barracão da sua serraria. Com duas dezenas de atiradores mais os da cidade a tropa estava formada. Entrariam na fazenda na madrugada às balas e despejariam os posseiros. Dois caminhões para transportar as famílias para outras cidades ficariam à disposição. Foi o plano de despejo.
Os soldados partiram e se ombrearam lado a lado pelo lado de fora da fazenda. Ultrapassaram a cerca na mesma formação pelo lado de dentro. A fila anda lentamente como arrastão, deram alguns passos e ouviu-se o tiro. Os soldados jogaram-se ao chão e iniciou-se a fuzilaria. Do outro lado estavam os posseiros de tocaia, foram avisados com antecedência. Depois da carga de tiros o silêncio se fez e o dia amanheceu como ressaca de bêbado.
- Ferido! Ferido! Acudam!
Veras estava morto, recebeu o tiro fatal no peito. Os jornais da capital noticiaram a morte provocada pelo conflito agrário. Veras tornou-se vítima, herói e nome de rua. Anos depois a fazenda de Balbino foi desapropriada e os posseiros assentados, ponto final do conflito. Antes da votação do projeto de lei o vereador Antônio de Oliveira recebeu a visita de Raimundo. Se dizia filho irregular de Antônio Veras. Se opunha à mudança do nome da rua. O vereador relatou:
- Há muitas testemunhas vivas que participaram do acontecimento. Ambos os lados não tinham armas adequadas para o confronto. Ninguém acertou tiro em alguém. Veras foi assassinado por Atílio porque estava sendo traído pelo colega de farda. O despejo foi um ardil criado pelo coronel Balbino para ocultar o crime. Atílio ficou sabendo que estava sendo traído pela boca do próprio coronel. Foi por ele preparado para executar seu pai.
E concluiu:
- Rua da Conquista pela vitória dos posseiros, conquistaram a terra. Mas, pode ser entendido, também, como comemoração do seu nascimento. Se fosse o nome de sua mãe, Rua Jurema, não ficaria bem. Toda história se resume na palavra conquista. Cada qual entenda como desejar.