Senso comum de antigamente, o dizer: ‘marido se pega pelo estômago’. Filhas de namoro firme as mães se apressavam em ensiná-las. O básico, um ou dois pratos mais elaborados. Um desses servido ao noivo em visita aos sogros recebia o elogio do incauto. A mãe se adiantava: “foi fulana que fez!”. A arapuca dava certo, estava selado o casamento. Casados, a verdade se exaltava, a moça era péssima cozinheira. Assim me tornei ‘máster chef’ para me alimentar menos mal. Parecida é à história dos caminhoneiros. A noiva no caso, Pedro Parente, é especialista num único prato, dolarização de combustível. A receita trouxe fome, o pessoal assumiu a cozinha, seria isto? Ontem, o JN da musa do golpe, teceu loas incontidas a Parente. Ele, o gênio, recuperou a empresa falida. Duas mentiras que fogem ao assunto de agora, a importância alimentar. Sobre isto estamos falando. Nos meus vinte e poucos anos fui tomado de surpresa em meu consultório. O senhor Medeiros, pessoalmente, me procurava para resolver um problema de sua fazenda. Era muita areia para meu caminhão o chamado Medeirão, fazendeiro mais rico da cidade. Possuía algo em torno de 600 mil cabeças de bovinos e de, não sei quantas, fazendas. Uma celebridade latifundiária e pecuária. Apesar de seus dois metros de altura e eu inferiorizado em 20 cm a conversa, imediatamente, foi cordial e franca. Não havia porque me conter: - “Seo Medeiros que devo fazer para ficar rico como o senhor?” Passou a receita: Trabalhar 20 anos, não comer e guardar cada centavo ganho. Se manter mais 20 anos nessa condição. Cuidar 20 anos para não ser roubado pelos filhos. - “Em sessenta anos você estará rico como eu”, concluiu. Exatamente a diferença de tempo entre nossas idades. Causa, talvez, da afeição mútua repentina como seres complementares. Faltava a cada um o que ao outro sobrava. Tive a visão profética sobre mim, jamais seria rico e se confirmou. Minha mãe sempre explicou seus peitos murchos pela fome que eu tinha. A ‘receita dos 20 anos’ está na cozinha de Meirelles, Temer e teve o consenso de Parente. O povo não tem vocação para Medeirão. Como eu, prefere comer. Dois anos surgiram as reclamações de péssima cozinha. Não suportarão mantê-la. Após vários anos de acampamento e de ocupações a fazenda foi desapropriada. Cada família dirigiu para seus lotes, surgiu o Assentamento Santa Clara. Perguntei ao coordenador do Movimento, “e agora?”. Respondeu: - “Agora? Encher a mesa de alimento. Nenhum grão de milho para a burguesia”. Entendi, nada de comércio e venda. Primeiro produzir para as necessidades. Surgiram as plantações de feijão, mandioca, milho, arroz, legumes e verduras. Seria a receita verdadeira para a Petrobras. O Consenso de Washington quer obrigar o brasileiro a engolir o que não está acostumado. Como fosse a comer hambúrguer com catchup e mostarda. Podem insistir. Ele não deixará o arroz feijão por nada desse mundo e ocupa a cozinha se precisar, mesmo que demore