O EXTINTOR DE INCÊNDIO
O país assistiu estarrecido à terrível tragédia o Museu Nacional em chamas, no último domingo.
O museu abrigava mais de 20 milhões de peças de estudo de pesquisadores com perguntas que não serão respondidas. Cerca de 200 fósseis do “grupo de Luzia”, referência dada ao nome do mais antigo esqueleto encontrado nas Américas no sítio arqueológico de Lagoa Santa, em Minas Gerais, com idade aproximada de 11.500 anos, tornaram cinzas. 40.000 objetos de 300 povos indígenas com o maior acervo de registros de línguas indígenas a nível nacional e internacional, muitas dessas línguas já sem falantes vivos, tiveram o mesmo destino. Papéis, fotos, negativos, mapa étnico-histórico-linguístico com localização de todas etnias do Brasil desde o século XVI, uma perda irreparável para a Memória Histórica. São apenas alguns exemplos pois o tamanho da perda irreparável ainda é desconhecido.
O mundo todo se solidarizou com momento doloroso do Brasil representado pela morte do maior repositório da cultura nacional. Um lindoiense, cidadão de bem, comentou que tudo não passou de queima de lixo. É de lamentar de tristeza, duplamente, a perda do Museu do tempo imperial e o desconhecimento e cultura de nosso povo.
O ator Othon Bastos expressou a mesma indignação quando disse: “O que vai restar desse país é cinza mesmo, se não melhorar isso daí”
O presidenciável Jair Bolsonaro perguntado pela repórter o que ele faria em relação à tragédia, respondeu: “Já está feito, já pegou fogo, quer que eu faça o quê?”. A resposta não é, qualitativamente, diferente da que é dada pelo conterrâneo lindoiense, um anti-lulista e provável bolsonarista. A semelhança das respostas está em não confrontar o mal, ignorá-lo, torná-lo coisa banal.
Aceitar o mal é superficial, já combatê-lo exige esforço, exige pensar para encontrar a solução.
Três dias se passaram do incêndio do Rio e o Brasil teve nova perda, faleceu a famosa atriz Beatriz Segall. Beatriz Segall foi a vilã Odete Roitman da novela “Vale Tudo” da Globo em 1988, que denunciou a inversão de valores no Brasil. Em uma das cenas Odete foi questionada sobre a violência e respondeu: “Só há uma solução. É evidente que é a pena de morte. E pra ladrão e assaltante, cortar a mão em praça pública”.
Pensamento como esse de Odete Roitman está vivo em parte da população de hoje que acha que a solução da violência está na liberação do mercado de armas, na castração de homossexuais, na banalização do assédio e estupro em mulheres, na homofobia, na misoginia, na intolerância com a minorias e não nas regras de civilidade, moral, direitos civis e cultura.
O Brasil é campeão de homicídios, em feminicídios, em infanticídios, em estupro de mulheres etc. só os brutos acreditam que a solução está em mais violência.
Bolsonaro aposta nessa ideia para vencer as eleições, deixou claro que vai apostar no ultraje e na provocação. Nos atos políticos faz acenos de armas com as duas mãos, gestos de prisão, no último sábado, no Acre, disse que iria “fuzilar a petralhada”.
Hoje (06.09), na carreata em Juiz de Fora, Bolsonaro foi ferido por uma estocada de faca e retirado da comitiva para ser socorrido no Hospital.
Quem com ferro fere com ferro será ferido, é vítima do próprio discurso, provou do próprio veneno. Desejamos que se restabeleça e passe entender, já que se considera que está em missão de Deus, que respeite um dos princípios dos Dez Mandamentos: Não Matarás.
Incêndio há demais na nação, necessita de um bom extintor, desses da cor vermelha de eficiência comprovada.