A ORDEM E O PROGRESSO
No domingo, 7 de outubro, será realizado o primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras. As pesquisas dizem que os vencedores serão Jair Bolsonaro, candidato da extrema-direita e Fernando Haddad, candidato da esquerda. No segundo turno Fernando Haddad venceria Jair Bolsonaro em disputa apertada.
Esse cenário disparou o alarme dos que se consideram fiadores da ‘tradição democrática e reformista’, o chamado Centro, que foi o grande patrocinador do impeachment da presidente Dilma. Exigem a reação imediata e corajosa dos candidatos – Geraldo Alckmin, Marina Silva, Álvaro Dias, Henrique Meirelles e João Amoedo. Desejam que se unam, urgentemente, para reverter os resultados porque, segundo eles, ‘os dois principais candidatos desqualificam as instituições e a democracia corre risco’ (FSP, Opinião, 23-9).
Na atual conjuntura de Deus nos acuda é chorar o leite derramado. Cada candidato de Centro atinge a apenas um dígito nas pesquisas e a soma de todos eles ao máximo de 21%. Bolsonaro e Haddad somam 48% com 12 % de Ciro Gomes, de centro-esquerda, representam 60% das intenções de votos. Nunca, desde a redemocratização do país, se atingiu a números tão elevados no primeiro turno.
Já é possível tirar a primeira conclusão das eleições, o grande derrotado de 2018 é o Centro. O Centro, o que ele representa, foi pulverizado e impedido de continuar no comando da nação. Quer dizer, o plano econômico de seu governo representado por Temer foi, vigorosamente, rejeitado pela população.
Restaram as alternativas de escolha, a extrema-direita ou a esquerda - bolsonarismo ou lulismo - numa disputa polarizada que será acirrada até o final.
Essa concorrência sempre existiu de modo encoberto desde o fim do regime militar de 1964. A mentalidade autoritária e ditatorial não foi abolida com a redemocratização, ao contrário, reascendeu com as vitórias consecutivas do programa popular do PT nas eleições presidenciais. O impeachment de Dilma foi a primeira tentativa de dar um basta nessa história, não deu resultado. Lula seria, novamente, eleito com facilidade pela 5ª vez se não estivesse impedido. Por esse motivo foi impedido, é a segunda tentativa. A direita fracassou nas intenções de barrar o lulismo, agora com Haddad já alcançando as primeiras posições. Dado a isto, perdeu a prioridade na execução dessa tarefa que passou a ser feita com apelos à intervenção militar e sob liderança da extrema-direita.
A eleição presidencial de 2018 acabou se resumindo no confronto entre bolsonarismo x lulismo. São dois modelos, um inspirado no saudosismo do espírito do regime militar de 1964 e outro, nascido da participação popular que ocorreu com a redemocratização.
Pensar como seria o governo Bolsonaro só é possível pela imaginação, pois nunca governou. Talvez, os dias se parecerão com os dos 21 anos, de 1964 a 1985, nos quais o país viveu sob o mando de uma ordem autoritária.
O governo de Haddad é mais fácil de se saber. Em 13 anos de comando da nação, de 2002 a 2015, a democracia e suas instituições foram respeitadas, houve progresso sem que houvesse uma única convulsão social.
Não é possível descartar novos ataques à livre manifestação do voto. Causa espanto o cancelamento de 3, 368 milhões de títulos de eleitor quarta-feira (26) pelo STF (Supremo Tribunal Federal), a maioria das regiões mais pobres, quando se compara que Dilma derrotou Aécio pela diferença de 3,5 milhões de votos.
Podem até mesmo inventar a fatídica ‘bala de prata’ para liquidar o adversário. Mas, a nação está convencida de que é a ordem democrática, não a força, que garante o progresso de todos, e não de poucos – e as urnas revelarão.