O CHEQUE EM BRANCO
Economia é a ciência que estuda a produção de bens limitados para atender às necessidades humanas ilimitadas.
No século XVII Thomas Hobbes, um matemático e filósofo inglês, escreveu “Leviatã”, um dos livros políticos mais importantes do ocidente. A obra é referência para o estudo da influência do poder econômico no campo cultural, religioso e político.
Para Hobbes o homem busca suas necessidades e desejos em um mundo que não pode satisfazer a todos. Então, ele despreza a justiça, é egoísta, busca o domínio do outro com uso da força e da astúcia. Há uma frase em sua obra que resume bem esse pensamento: “o homem é lobo do homem”.
“Leviatã” foi publicado em 1651, época da monarquia absoluta onde o Rei se dizia designado por Deus, se autoproclamava “O Estado Sou Eu” e governava com os princípios um Rei, uma Lei e uma Fé.
Nos dias atuais o absolutismo é representado pelo poder econômico. Há uma espécie de estado hobbesiano, o cenário selvagem de ‘guerra’ de todos contra todos. Em várias partes do mundo o liberalismo econômico se dissocia do humanismo.
O sistema de governo da democracia, onde o soberano é o povo, é o que melhor defende os princípios políticos de abertura, da inclusão social produtiva e da liberdade. Sem respeitar tais princípios a vida não seria boa nem digna. Isto é tão certo como é indiscutível que a democracia não é o modelo mais eficiente para a economia. A contradição é clara quando ocorre excesso e falta de moderação da economia.
A reforma trabalhista, a insistência na mudança do modelo de previdência pelo de capitalização, a introdução da economia neoliberal no sistema nacional pretendida por Paulo Guedes, futuro Ministro da Fazenda, mostram o desequilíbrio da balança entre a visão de eficiência econômica e a democracia como governo do povo para o povo.
O modelo que pretende implantar no Brasil é do Chile, país que Jair Bolsonaro fará a primeira visita como presidente conforme anunciou.
Os chilenos alertam que foi possível implantar o neoliberalismo porque o país estava sob regime da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Ela foi uma das mais sanguinárias das Américas. Se iniciou com o assassinato do presidente Salvador Allende, provocou mais de 3 mil mortos e desaparecidos, milhares de prisões e exílio de 200 mil cidadãos. Pinochet foi condenado por genocídio e crime contra a humanidade em 2004 e teve que devolver 28 milhões de dólares que mantinha em bancos estrangeiros.
“Como as Democracias Morrem”, é título de um dos livros mais comentados de 2018. O autor, Steven Levitsky, professor de Harvard afirmou que Bolsonaro se encaixa no comportamento autoritário da metodologia de sua obra. Para os mais renomados estudiosos internacionais (Francis Fukuyama, Thomas Picketty, George Akerlof, Manuel Castells, Mike Godwin, Noam Chomsky etc.), não há como dissociar o discurso de Bolsonaro da sua prática após assumir a presidência. O futuro da democracia do Brasil é motivo de preocupação dos principais jornais mundo como The Economist, The New York Times, The Guardian, Le Monde e El País dentre tantos outros.
Um regime autoritário nacional terá como base a imposição do Ministério da Fazenda articulado com a lógica da Lava Jato. Da criminalização da política emerge a pedagogia dos valores moralizantes e conservadores da religião e estes passam a ser balizadores das ações políticas (teocracia?). Promove-se a despolitização da economia e se introduz o autoritarismo tecnocrático na mesma economia.
Mino Carta, em “A Caminho do Hospício”, avisa: “cidadãs e cidadãos: vocês nunca verão terra igual à de Bolsonaro” (Carta Capital, 12.11)
O cheque em branco dado a Bolsonaro pelos eleitores 209 milhões de brasileiros pagarão a conta.