MUDANÇA DE TEMPO
A mudança política, econômica e social ocorre de tempos em tempos, em todas as nações do mundo, é natural da sociedade. Ela traz o benefício pedagógico da nova realidade para evoluir.
O Brasil está saindo do inverno que se iniciou com os protestos 2013. Hoje há esperança em 64% da população segundo as pesquisas, devido às eleições. O reencontro com a normalidade na democracia é a chegada da primavera.
O entusiasmo se justifica. O presidente atual não chegou pelas mãos do povo e deixa o cargo com 5% de aprovação. Foi mandatário por impeachment. A nação se dividiu entre os que entenderam essa medida como natural; outros, como traição e prática antidemocrática - um golpe político.
Pode haver calor no inverno e frio no verão.
A explicação meteorológica para inversão climática se baseia em temperatura e pressão. Para as mudanças políticas a explicação são economia e poder.
O Brasil viveu longo ciclo de hegemonia do petismo. Nesse tempo não aderiu ao eixo da economia ocidental representado pelos Estados Unidos, Alemanha e Grã-Bretanha, o denominado neoliberalismo. Esses fatores foram determinantes da mudança de tempo que se iniciou em 2013 e culminou em 2018 com a derrota do candidato do PT.
O ideal da democracia, a alternância de poder, foi alcançado em paz e respeito ao seu valor fundamental, o voto. É um triunfo da intuição brasileira que evitou o uso da força que se insinuava. A democracia poderia ser esquecida, mas a troca do poder não seria.
A partir de 1º de janeiro de 2019 se inicia inédito ciclo histórico brasileiro.
O poder não será dos partidos políticos de oposição. O acontecimento não repete o dos Estados Unidos onde o Partido Republicano venceu o Partido Democrata. Aqui os partidos de oposição ao PT, todos, não chegaram ao segundo turno, foram derrotados.
Surgiu nova força política centrada no futuro presidente Bolsonaro e seu partido PSL (Partido Social Liberal) e se consideram de extrema direita.
O novo governo elegeu Donald Trump como modelo. O futuro chanceler Ernesto Araújo declarou: “Trump propõe uma visão do Ocidente não baseada no capitalismo e na democracia liberal, mas na recuperação do passado simbólico, da história e da cultura das nações ocidentais”. Essas palavras definem a pretensão para o futuro da nação. O mesmo chanceler completa o pensamento: “O projeto metapolítico significa, essencialmente, abrir-se para a presença de Deus na política e na história”. Mais direta, Damaris Alves, futura ministra do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos diz: “É o momento da Igreja governar”
O futuro ministro, Paulo Guedes, afirma que é “necessário modernizar a economia brasileira”, é o alinhar ao liberalismo financeirizado da banca americana.
Esse quadro mostra que o novo governo será ultraliberal e conservador. É um convite à releitura da obra de Max Weber “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, publicado em 1905.
A mudança é radical no modo de pensar tradicional. A vitória pela fé do catolicismo será substituída pelo homem predestinado, o escolhido de Deus do calvinismo, o puritanismo e o trabalho como fim em si mesmo. Os que não aderem serão tratados como pecadores, serão punidos. Ressalta-se aí o papel do juiz Sérgio Moro para completar. “Ele dará dignidade ao governo” assim se expressou o General Mourão, futuro vice-Presidente, comparando-o à infantaria em relação às Forças Armadas.
Por essa ótica as declarações do futuro presidente se tornam lógicas: patrão, o predestinado, sofre. Quilombolas são vagabundos e índios devem trabalhar. É a nova pedagogia social e econômica da democracia atual que se expõe. No mal tempo a democracia pode ser esquecida. Mas, o conservadorismo, jamais
Na mudança do tempo o caipira é sábio, quando chove ele fala: “deixa que chova”.’