FORÇAS OCULTAS
A renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, o “Repórter Esso”, líder do rádio, atribuiu a decisão a “forças ocultas”, frase que Jânio não usou, mas que entrou para a história.
Jânio alegou que a pressão de "forças terríveis" o obrigava a renunciar, não disse quais. Em sua carta renúncia dá a pista: “...a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do exterior” - é um diagnóstico do Brasil de todos os tempos.
Destruição da natureza, sacrifício da vida, etnicídio de índios, escravização de negros, assassinato de trabalhadores rurais, habitantes mal remunerados, desempregados, trabalhadores tolhidos em direitos, catástrofes ambientais, genocídio como de Canudos (1897) ou o atual de Brumadinho e a terra, suas riquezas (commodity) e produtos para enriquecer poucos é a descrição de um desenvolvimento colonial.
Por outro lado, se encontra um Estado ineficiente, corrupto, mantenedor de privilégios e de impunidades, ausente de identidade nacional como na declaração “Donald Trump é a esperança do Ocidente”, do chanceler Ernesto Araújo. O alinhamento às políticas do presidente americano, servindo de capacho, como o uso de tropas brasileiras para confrontar um vizinho que se convive pacificamente, a Venezuela. Recorda os Voluntários da Pátria, os 100 mil brasileiros mortos na Guerra do Paraguai (1864-1870) e deixar no país vizinho apenas velhos, crianças e mutilados de guerra com 80% da população masculina dizimada. Uma aventura horrorosa urdida pela Inglaterra, a força poderosa da época.
Sem compromisso com a melhoria do cidadão, com instinto de morte, tem sido a política que o pensador Michel Foucault (1926 – 1984) chamou de “tanatopolítica’.
Tanatos é o deus da morte da mitologia grega, a força oculta ou “forças terríveis” a que Jânio se refere.
Já é possível perceber que há uma força dominadora que manda e desmanda em todas as ações dos governos, inclusive, as dos próprios Estados Unidos de Donald Trump.
O ministro chefe da Casa Civil Onyx Lorenzoni, o mesmo que tem caneta, mas não tem tinta e nada pode decidir, esclareceu a charada de Jânio Quadros. Questionado sobre a intervenção na empresa Vale do Rio Doce, após o genocídio de Brumadinho, disse: “Não há condição de haver qualquer grau de intervenção até porque esta não seria uma sinalização desejável ao mercado”.
A declaração de impotência do governo e de subserviência ao mercado levou o Wall Street Journal (05,02), a alfinetar que no Brasil “criaram empresas com mais poder que o governo”. Como se o “backyard” (quintal), como consideram o Brasil, na sede, que são os Estados Unidos, a situação fosse diferente quando em realidade é idêntica.
A força do mercado, efetivamente é quem domina e comanda o mundo. Mesmo as indústrias não existiriam sem ações no mercado. O chamado mercado é o sistema financeiro internacional, donos do dinheiro (capital), donos do mundo. São pouquíssimos, menos de uma centena de bilionários numa população mundial de 7,6 bilhões de habitantes.
O debate entre esquerda-direita é inútil se não levar em consideração esse sistema geral. O Brasil é país emergente pela economia e subdesenvolvido quanto à distribuição de renda. A fragilidade na recuperação da economia não se resolverá com a Reforma da Previdência, assim como a Reforma Trabalhista não garantiu mais empregos. As reformas são objetivos de mercado como garantia de pagamento à alta crescente de juros que pratica e funciona como ralo que suga toda riqueza da nação. Viver é produzir ganhos para o mercado financeiro.
Numa adaptação o pensamento de Jânio Quadros fica esclarecido: a covardia que subordinam os interesses da nação aos apetites e às ambições do Mercado.