REFORMA DO CARNAVAL

 REFORMA DO CARNAVAL

“O País do Carnaval” é o primeiro romance de Jorge Amado. Foi escrito quando ele tinha apenas 18 anos e publicado em 1931. O romance atraiu Rachel de Queiróz, tornaram-se amigos. Foi ela quem que lhe apresentou a Juventude Comunista em 1932. Jorge Amado se tornou militante. O livro foi considerado subversivo e queimado em praça pública de Salvador em 1937, pela polícia do Estado Novo de Getúlio Vargas. A Era Vargas se caracterizou pela centralização, autoritarismo e anticomunismo.

O livro foi traduzido em várias línguas e o autor reconhecido, internacionalmente. Acusar “O País do Carnaval” como obra comunista e subversiva é o delírio comum dos governos com pouca ou nenhuma vocação democrática.  

Subversivo é o Carnaval.

As teorias da antropologia social e sociologia sobre o Reinado de Momo apontam a inversão, reviravolta e neutralização da ordem vigente. A folia carnavalesca rompe barreiras socioeconômicas, prestígio das autoridades, dominação da mulher pelo homem, preconceito contra os LGBT e, principalmente, de cor. Essa transgressão é entendida como concretização do ideal libertador-igualitário da democracia onde o mandonismo vira de ponta-cabeça no imaginário carnavalesco. Nesse sentido, o carnaval é subversivo e a folia uma revolução.

A festa popular não é reconhecida pela totalidade da população.  Salvador é famosa por extrapolar os dias de celebração enquanto em Porto Alegre a adesão da população é limitada. Aponta-se como causa a estigmatização social pela dificuldade de integração do negro na sociedade rio-grandense. Essa questão virou objeto de estudo e pesquisa de sociólogos como Otavio Ianni, Florestan Fernandes e Fernando Henrique Cardoso.

A política é campo fértil para a crítica do que, o Carnaval, se aproveita como exercício de democracia

Por meio de fantasias dos foliões, do enredo das escolas e letras das marchinhas é possível captar o significado do dilema brasileiro.

A vitória da Mangueira, com enredo que homenageia indígenas, quilombolas e a negra assassinada vereadora Marielle, denuncia para o Mundo o descaso do governo brasileiro para essas questões.

A letra abaixo da marchinha, “QUE CHÁ FOI ESSE?” de Marcello Stasi faz humor do perfil do governo que se inicia:

 

“Eu não sei que chá foi esse que eu tomei (bis)

O mundo tá tão diferente

Até a terra era redonda e ficou plana

E a bandeira no planalto agora é americana

Tá tudo muito estranho nem sei o que pensar

Subi na goiabeira tentando me acalmar

Foi aí que Jesus apareceu

Com uma roupa escandalosa, nem azul nem cor de rosa

 

Eu não sei que chá foi esse que eu tomei? (bis)

Ninguém tá entendendo mais nada

Só dá laranja nessa terra de banana

Motorista é quem assina o cheque para a primeira dama

Quem manda na justiça é general e almirante

Preciso acordar desse sonho delirante

E é bom que eu fique bem atento

Pois se agora eu não lutar, nunca mais eu aposento”

(Para conferir acessar: https://youtu.be/dq2OnFmf0fI)

 

Os ministros da ala ideológica do atual governo, Ernesto Araújo, Ricardo Velez, Ricardo Salles e Damares Alves, dotados de visão ultraconservadora, consideram o Carnaval caso de “comunismo cultural”. Esse argumento é invenção da visão caolha que distorce os fatos e não alcança a realidade. O fato é que não há espaço para a direita no Carnaval.

O Presidente Bolsonaro é sensitivo. Como médium da ultradireita   reagiu contra a “cultura de inclinação socialista” ao compartilhar um vídeo obsceno.  Tirou zero na prova do primeiro Carnaval como Presidente.

Nesta quinta-feira (07), ele repetiu um princípio da Era Vargas: “a democracia existe somente quando as Forças Armadas querem”. Subentende que o Carnaval poderá ser, futuramente, uma parada militar. É a Reforma do Carnaval para se tornar festa de direita.