QUE SERÁ QUE SERÁ?

QUE SERÁ QUE SERÁ?

Até mesmo o mentor intelectual do bolsonarismo, Olavo de Carvalho, não soube dizer qual a ideologia do discípulo. A resposta que deu a uma pergunta, feita um dia antes do mito pisar no solo do Império americano, permeou-a de incerteza: “Acho que ele não tem”

O pensador de extrema direita percebeu que havia cometido um disparate. Ele, com seus comandados aliados ao poder evangélico, promoveram a Revolução de Direita no Brasil não sabe como pensa o escolhido. Apressou- se em explicar: “Não me preocupo com a ideia de Bolsonaro. Gosto do tipo de homem que ele é”.

A expressão ‘tipo de homem’ Olavo, que é astrólogo, deve se basear no Mapa Astral do presidente. Seria, um presidente uraniano, conservador, com ênfase na família, com forte disposição de transformar o país de forma radical e profunda.

Já para seus seguidores Bolsonaro é mito. Mito é simbolizado por Netuno, deus dos mares provocador de tsunamis (Olha aí a astrologia, novamente).

Para outros é o tipo tosco. Ele age por impulsos, executa, o coração não perdoa, como o tirano que aplica a justiça sem humanidade.

A comunicação, baseada em imagens agressivas, foram eficazes junto ao eleitorado religioso conservador. O olho por olho, dente por dente do “Deus dos Exércitos”, implacável, inclemente, vingativo do Velho Testamento. Este é o “Deus acima de todos”. Seu representante no “Brasil acima de tudo”, pode assumir prerrogativas sem respeitar as regras costumeiras e tem poder de morte sobre os adversários.

Esse lado de Bolsonaro anima o projeto de adoção da Bíblia como livro didático nas escolas. A proposta de Operação Lava Jato da Educação para limpeza necessária dos praticantes do “comunismo cultural” na rede de ensino. A mudança da embaixada para Jerusalém para que se cumpra a profecia da volta de Cristo ao mundo. A inversão das expectativas teológicas do Deus de misericórdia de Cristo, como ocorreu na Inquisição católica, agora revista em versão pseudo evangélica adaptada ao presente.

Já sua face política é comparada a nazista. No Sul, destacadamente, e no Sudeste e Centro-Oeste, fazem referência ao “Kaiser” redivivo. Título lhe negado e oferecido, mundialmente, à Donald Trump como o Hitler contemporâneo. Ficou em segundo lugar, o “Duce” tropical, em referência a Mussolini. Seria, fascista.

Voltando a Olavo de Carvalho, ele não confirma. Ele deu a entender que não há consciência doutrinária político-ideológica em Bolsonaro. Assim, despreza a preocupação com a ideologia e se satisfaz com o “tipo”. Afinal, foi o “tipo” que obteve a vitória eleitoral e não sua ideia.

A ideia veio da Lava Jato.  Ela estava em alta com a cruzada de moralização da política. Bolsonaro fez como o surfista, aproveitou a onda para se eleger e, agora, depende dela para se manter.

O discurso familiar, moralista, religioso, de mudança de costumes e acabar de vez com os socialistas – mesmo que “mate 30 mil deles” - como sugeriu, é a onda. Bobagem, morrerá na praia se não resolver o mais grave problema do Brasil, o desemprego.

O comércio é o primeiro a entrar em crise pela queda no consumo. Segue-se a queda de arrecadação de impostos e todas consequências.  A população sofre, não está interessada na reforma da previdência que interessa aos Bancos. Ela será prejudicada ainda mais e aguarda a melhoria da situação desde os tempos de Temer já se mostrando desiludida (Bolsonaro perdeu 15% nas pesquisas e está em queda com 34% de aceitação).

Bolsonaro é um político comum falível sujeito a sucessos, revezes e azar.

“O mito”, não existe. É óbvio.

Mas, como diz Clarice Lispector: “O óbvio é a verdade mais difícil de se enxergar”.