CEM DIAS DE SOLIDÃO

CEM DIAS DE SOLIDÃO

Mesmo tendo a Terra se tornado plana. As meninas vestirem rosa e os meninos azul. A proclamação da parábola da goiabeira. A revelação do fantasma do comunismo cultural.  A afirmação de que mulheres não podem ver homem com uniforme policial que ficam histéricas. A divulgação do carnaval golden shower. O brasileiro ser considerado canibal. A declaração de que o golpe militar de 64 não foi ditadura. O delírio de que o nazismo é esquerda e não direita. Todos esses temas ideológicos foram discutidos nos primeiros cem dias de governo. Mesmo assim, a Embaixada do Brasil não foi transferida para Jerusalém.

Silas Malafaia, como autoproclamado representante do turismo religioso para Israel, exigiu a transferência. Mandou recado para Bolsonaro: “Vai ter que ser macho”. Depois emendou com a dúvida, “Acho que ele é”.

O filho 02 saiu em socorro do pai. Garantiu que a embaixada será transferida para Jerusalém. (Bolsonaro chama os filhos por números, 01, 02, 03 e 04 sendo ele, provavelmente, 00).

“É promessa de campanha”, concluiu.

Neste ponto o bolsonarismo faz toda diferença.

Na “Velha Política” é comum o político não cumprir promessa.

Na “Nova Política” (como o bolsonarismo se autodenomina), promessa tem o sentido religioso. Nela a fé foi transformada em voto. De Jair, deputado do baixo clero, ao Messias presidente da nação, é voto da fé que transforma água em vinho. 

O arrebatamento é a marca da Nova Política.  Dado a isso, numa manhã de terça-feira (11.04), em horário de expediente, Presidente e primeira dama foram ao shopping de Brasília assistir à pré-estreia do filme de propaganda religiosa “Superação – o milagre da fé”.

O homem de fé e que foi eleito por ela ao estar em Jerusalém, recentemente, se apressou em pedir socorro no Muro das Lamentações escrevendo um bilhete: “Deus olhe pelo Brasil”.

O significado do pedido ficou claro no dia seguinte quando disse que governar o Brasil é um “abacaxi”.

"Com esse abacaxi, não, com essa quantidade de problemas nas costas. A gente vai tocando o barco", comentou Bolsonaro.

Os problemas que fala não são os do país. São os novos problemas criados por seu próprio governo. A lista é grande.

Na linguagem bolsonarista foi com tiro de precisão, um sniper, que o Secretário-Geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno, foi exonerado.

O astrólogo Olavo de Carvalho, guru do governo, ofendeu publicamente o Secretário de Governo General Santos Cruz dizendo “Você simplesmente não presta”. Os generais jamais imaginaram que um dia teriam que combater um astrólogo. A guerra entre a sensata ala militar e a psicopata ala ideológica está declarada. Não há solução, é o mesmo que misturar água e óleo

O governo Bolsonaro, além de tudo, é órfão. Não tem aliados.

Paulo Guedes esteve na CCJ - Comissão de Constituição e Justiça (03.03), para defender a famigerada a Reforma de Previdência. Não recebeu apoio de qualquer deputado, mesmo os do partido do Presidente e teve que sair escoltado por meia dúzia de policiais.

O drama que o governo passa foi descrito pelo próprio ministro Paulo Guedes: “A gente anda dez metros e, de repente, vê que levou um balaço de gente que é nossa mesmo”.

Bolsonaro diz que vai tocando o barco.

Essa forma de dizer que está empurrando com a barriga é o modo de enganar a si mesmo.

O desemprego sobe, os preços no supermercado sobem, a gasolina sobe, o dólar sobe, o consumo cai, as lojas fecham, a economia está estagnada, a reforma de previdência interessa somente aos bancos. Iniciativas do Planalto aprovadas no Congresso é zero e as Medidas Provisórias não tramitaram em cem dias de mandato.

O Brasil acima de tudo está relegado à solidão como a de um barco parado e esquecido no tempo.