TEMPOS DE RIVOTRIL

TEMPOS DE RIVOTRIL

Não deve restar dúvida que Bolsonaro é despreparado para o cargo. Ele mesmo diz: “Não nasci para ser presidente, e sim militar”. Pede desculpas pelas “caneladas” como chamar Netanyahu, presidente de Israel, de Natanael. E considera a presidência um “abacaxi”, que está apenas de passagem, “graças a Deus”, disse.

Ao assumir-se despreparado deixou a administração do país para os ministros e auxiliares e poder se dedicar à guerra ideológica político-evangélica.

Acredita na Teoria da Conspiração de seu orientador religioso Olavo de Carvalho. Nessa as esquerdas infiltraram o ‘marxismo cultural’ no governo, nas escolas, na família, no meio rural, nos jornais e televisão destruindo a moral e o bons costumes cristãos.

Com essa visão introduziu a política armamentista com o Decreto de liberação das armas de fogo. Pretende mais concedendo permissão de posse todo mundo deve andar armando como no faroeste e dar licença aos policiais e fazendeiros para matar.

Os policiais que arriscam a própria vida há a lógica da legítima defesa. Esse risco será redobrado, pois os bandidos sabendo que eles têm essa licença valerá a regra do faroeste onde, quem saca primeiro e for mais rápido, vencerá o duelo.

Já para os fazendeiros, sejam eles grileiros, invasores de terras públicas ou improdutivos, a visão bolsonarista não faz diferença. A propriedade rural tem valor maior que a vida humana de ocupantes e suas famílias. A matança é crime e absurdo, pois a Constituição Federal abomina e coloca em primeiro lugar a vida humana.

A justiça feita pelas próprias mãos é coisa arcaica, tempo que não havia lei. Na ocupação do imóvel a Justiça determina a reintegração de posse sem necessidade de matar. Qualquer pensamento contrário a essa norma está descrito no CID (Código Internacional de Doença) – R 433 – Alucinação.

É o estado aloucado que faz surgir o delírio de eliminar toda esquerda do país. A fé na política unipolar não dá espaço para debate da contradição de ideias que garantem a civilidade, a humanidade e o aprimoramento da democracia. Os cursos de Filosofia e Sociologia, então, são abominados porque fazem pensar.

A militância bolsonarista é obsessiva, quem não concorda é um herege. É inimigo e se torna alvo de perseguição.

As decisões da ala ideológica do governo são tomadas sem análise criteriosa, como são as demissões e atos praticados pelos ministros da Educação e Meio Ambiente. Não há plano de governo, as atitudes refletem a realidade “descontruidora” no dizer de Bolsonaro.  

O grande projeto bolsonarista é a guerra santa autoritário-evangélica, contra os que se desviaram do cristianismo, para restabelecer o ‘sangue-limpo” na nação.

Não é a chamada direita conservadora liberal que se pratica no mundo. É populismo radical de direita o que se pratica no Brasil.

Considerando-se o legítimo representante da população, alimenta a guerra ordenando: “...se essa turma quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão pra fora ou pra cadeia”.

À comparação com a mentalidade da Idade Média, são os “autos-de-fé”, com o herege sendo condenado à fogueira.

A inspiração religiosa, traço marcante do governo, põe fim ao Estado laico. O Ministério do Santo Ofício poderia ser entregue a Silas Malafaia, Magno Malta ou Edir Macedo pelo apoio nas eleições.

Enquanto isso, no Dia do 1º de Maio Bolsonaro apareceu na TV. Agradou os patrões e esqueceu os trabalhadores, revela que está perdido no tempo e no espaço.

A nação continuará sem saber como resolver os 13,4 milhões de desempregados e de 50 milhões em atividades informais sem benefício da assistência social, e vive uma ‘crise humanitária’ do tamanho populacional de duas Venezuelas.

Nesse clima de revanche e cultos religiosos transcorrerão os anos governados por Bolsonaro – são tempos de tarja preta.