CRÔNICA LINDOIENSE
Em meio a modernidade não desenvolveu, foi triste. Se houvesse desenvolvido talvez fosse mais triste. As tardes silenciosas onde o Sol morre tristonho é um lamento da primeira metade do século XX que perdura aos dias atuais.
A natureza descobriu os homens.
O Brasil descobriu Cabral. Ele continuaria a viagem para a Índias e Caminha não teria escrito ao Rei. Dr. Tozzi, continuaria a clinicar na região.
A natureza mudou as trajetórias.
O Pau-Brasil trouxe a colonização. A água quente, poderosa na cura de eczemas, fez as termas e a comunidade lindoiense.
Marie Sklodowska Curie primeira mulher prêmio Nobel, a mais ilustre visitante do mundo científico, referendou o descobridor Dr. Francisco Tozzi.
Retirou o véu da natureza e mostrou a vocação da água, é medicinal!
Surgiu a medicina curativa pela água. Timbrou-se a estância hidromineral e climática de repouso e cura. Os acontecimentos médicos, urbanos e sociais se deram ao redor da antiga Fonte. A comunidade orava, festava em comunhão fraterna, com segurança no poder da água que lhes trazia o sustento. Os visitantes recobertos de escaras voltavam para suas casas de pele nova. A água ganhou medalhas, se tornou famosa, ultrapassou fronteiras chegou à Lua através da NASA.
Assim Água Quente, Thermas de Lindóia se tornou Águas de Lindóia.
Nada mais existe da antiga ‘Thermas’.
Nada mais, nem a comunidade, nem as curas, nem a Água Mineral Natural Lyndóia engarrafada.
Restou saudosismo tendo como testemunhas o Bosque e a Igreja de Nossa Senhora da Graças postada no topo do morro qual cruz de calvário.
Nessa época passou por aqui um poeta-profeta.
Mario de Andrade além da natureza se embeveceu com o novo broto que nascia, o turismo caipira, de milho, pamonha, charrete, cavalo e fala errada como descreveu.
O broto acabou em divórcio do amor antigo. O termalismo do Dr. Tozzi, a ciência médica, foi trocada pelo lazer turístico.
O destino de Águas de Lindóia estava traçado, seria inculta e bonita pela própria natureza.
Estaria reduzida a morros e hotéis e o trabalhador a sobreviver de salário mínimo dependente de gorjeta em uma economia estagnada causadora de grave desigualdade social.
O glamour dos hotéis, que motivou veranistas notáveis, personalidades políticas e econômicas, encontra o contraste nos casebres e habitações simples dos trabalhadores, em geral sem água interna e sanitários próprios. É a realidade que se vê nas fotos do diretor de Cultura João Biscuola, frequentes neste jornal.
O ciclo de mentalidade colonial foi rompido já ao iniciar a segunda metade do século passado.
Dr. Geraldo foi o agente que revolucionou o urbanismo, modernizou a cidade, impulsionou a educação e cultura, gerou perspectivas novas de trabalho e integrou o bairro dos trabalhadores Bela Vista na formação da sociedade local.
O inegável tirocínio político-administrativo do engenheiro Geraldo Mantovani o credencia ao título de Estadista insuperável da história lindoiense.
Dr. Tozzi e Dr. Geraldo se completam como fundador e único promotor de progresso real da Estância.
Desde então a estância vive desse movimento inercial.
O turismo caipira não evoluiu, apenas trocou de nome para ‘turismo ecológico’.
Longe se encontra de se equiparar às cidades turísticas que investiram no setor.
É triste, mas seria mais triste se o turismo tivesse desenvolvido, Águas de Lindóia teria perdido sua identidade.
Neste século XXI a estância está num impasse.
A caixa d´água está prestes a ser desocupada.
Surgirá no topo do morro o esqueleto do engarrafamento deixado pelo Dr. Geraldo. É o fio da meada para engarrafar a água do município, eliminar o déficit do Balneário, passar a investir na cura pela água e reassumir o destino insuperável de Capital Termal do Brasil.
Que o espírito dos doutores Tozzi e Geraldo inspire os governantes.