O MILAGRE DE SANTO ANTONIO

 

O MILAGRE DE SANTO ANTONIO.

Por quantas vezes, até já perdeu a conta, Padre Narciso encontrou o envelope aos pés da imagem de Santo Antônio.

Despachou a bolsinha de papel, via-se logo artesanal, para o lixo. Não se dava mais à curiosidade de abrir, encontraria uma simples fita vermelha.

Ao jogar o envelope do santo sentia revolta:

- “O que eu estou fazendo aqui em Catolé do Rocha?! Me diz! Me diz!  Santo Antônio”.

Padre Narciso tinha crise.

- “Cidade morta”, reclamava com trejeito efeminado.

Sonhava retornar à animada Campina Grande onde se ordenou.  

Há dois meses, como vigário, auxiliava o velho pároco Padre Saturnino.

Este o aconselhava paciência, orações e meditação. Ser vigilante, não se deixar arrastar pela crise de fé.

- “Um dia vai ter seu rebanho deve estar preparado”, finalizava o velho padre ao noviço.

Antes o bispo Dom Agostinho o convocara. Esteve em Cajazeiras, sede da diocese.

– “Narciso está mais para freira do que padre. Ou nenhum dos dois”, sentenciou o despachado Dom Agostinho.

A vocação sacerdotal de Narciso corria risco, padre Saturnino recebera a incumbência de salvação.

Narciso era temperamental e antipático. Assim se comportou com Maria da Graça quando ela apareceu com novo envelope nas mãos.

- “Menina porque você já não põe aqui sua carta?”, mostrou a lixeira e continuou:

- “Ela não serve pra nada mesmo...”.

- “É promessa, padre Narciso”, respondeu desnorteada.

- “Promessa? Que promessa é essa sem fim?”

- “Tem fim sim, padre.  São nove semanas”

- “Que isso, você tá querendo que Santo Antônio lhe arranje um príncipe das Astúrias? Como é, me conta”.

- “É para arranjar casamento. Corta um pedaço de fita vermelha coloca entre os seios e dorme com ela. No outro dia põe no envelope, traz pra Santo Antônio e coloca outra fita no lugar”.

- “Você está com a fita no corpo?”

- “Estou. Quer ver?”, falou ingênua.

- “Deixa eu ver”.

Maria das Graças abre a blusa mostra a fita vermelha. Narciso olhou e reagiu:

- “Fecha a blusa menina, rápido”. Continuou:

- “Você tem que mostrar isso para um homem de verdade, não para Santo Antônio. Falta muito tempo para acabar a promessa? Promessa... isso não é promessa, é simpatia”.

- “É simpatia padre Narciso, mas faz parte de uma promessa. Falta pouco, duas semanas para acabar.

- “Que promessa?

- “Ah! Isso não posso falar. É promessa”.

Narciso encerrou a conversa, se despediram.

A imagem de dois pêssegos volumosos, perfeitos se manteve. Maria da Graça havia afastado a blusa para os lados deixando-os expostos. Ele estava com 28 anos de idade. Jamais vira seios de mulher, de moça, de fêmea como aquela dois anos mais nova que ele. A referência que tinha era a do Mello, colega de seminário, hoje padre em Pombal. Uma diferença entre montanha e o deserto onde mantinha o oásis pra refrescar.

Foi choque, estava certo disso, apenas choque.

Não entendia Santo Antônio. Por que demora atender Maria da Graça, moça nova, bem-apessoada e gentil?

- “Só se aparecer um jagunço mais macho que Honório Cavalcanti”

 Padre Saturnino respondeu e continuou a explicar:

- “Ele é o pai de Gracinha. O mais famoso matador de aluguel da cidade. Tem cinco filhas solteiras, ninguém tem coragem de namorar”.

Narciso se revoltou:

- “Quem é Honório, se acha um Lampião?”

O paciencioso padre responde:  

- “Meu filho, Lampião é lamparina perto de Honório.  Só um milagre de Santo Antônio pode resolver o caso de Gracinha e suas irmãs. Oremos”.

- “Eu tenho fé!  Santo Antônio dará um jeito na ignorância do Honório” disse Narciso convicto.

As cartas foram se amontoando aos pés do santo. Narciso não se intrometia mais. Maria das Graças ganhou um companheiro de oração. Narciso passou a se ajoelhar ao seu lado para fazer o pedido e orar cheio de fervor. Inverteu-se os papéis pecador era ele, devia se confessar com Gracinha.

Chamou-a para a sacristia e contou seu pecado:

- “Eu nunca havia visto seio de mulher. Só tive contato com homem. Sei que estou pecando. Me perdoe. Tenho desejo incontrolável de tocá-lo.

Você me permitiria?”

Maria das Graças fica com o peito nu. Se aproxima sorridente de Narciso paralisado. Lentamente, Narciso eleva seus braços e os seios são apalpados pelas duas mãos. Maria das Graças o estreita, o beija com prazer, longamente.

Surge o fantasma de Honório que precipita os acontecimentos.

Na noite daquele mesmo dia Gracinha fugiu com Narciso em seu Gol ano 2010 modelo 2011 para o Pará.

- “Amor, lembra da simpatia e da promessa que não quis te contar? Minha avó dizia que com a simpatia da fita Santo Antônio mostraria o homem de casar. Ele daria o sinal fazendo o homem tocar em meus seios. A promessa era obrigatória, me casar com ele, fosse quem fosse. Era você, amor!”

- “Gracinha, querida, penso que Santo Antônio fez bem mais que isso...”

Padre Saturnino se abalou para Cajazeiras. Foi informar o acontecido para Dom Agostinho. O bispo ouviu atentamente e concluiu:

- “Foi bom, descobrimos que ele não tinha vocação sacerdotal.

Vamos aplaudir Santo Antônio ele se superou nesse milagre. Arranjar o casamento para a mulher impossível. Transformar padre inseguro, sem convicção de gênero, em homem.  Desmoralizar o mais perigoso bandido da cidade...

_ “Foi obra da fé, Dom Agostinho. Os dois tinham muita fé!

_ “Saturnino, vai ter fé assim à puta que pariu...é demais.