CIDADE SPA
Águas de Lindóia não esconde o que é, o passado está ligado ao presente por cordão umbilical, um bosque quase abandonado.
De um lado está o Balneário com águas de poder curativo, de outro, o turismo e lazer representado pela praça Adhemar de Barros.
Apenas na primeira fase histórica, época Dr. Tozzi, tratou de ser típica estação termal. Época glamurosa, de referência arquitetônica das estações termais europeias como Montecatini (Itália), Vichy (França), sendo frequentada pela aristocracia da época, políticos, fazendeiros e comerciantes.
Ao longo dos anos, o cassino foi incorporado à Estância.
O entretimento pelo jogo passou a ser procurado, mais que o termalismo.
A proibição dos jogos no país (1946) e o desenvolvimento da indústria farmacêutica com drogas potentes e de menor custo que uma estação de água, provocaram o declínio do termalismo.
O ramo hoteleiro sobreviveu levando entretenimento e lazer para dentro de seus limites. Surgiram os investimentos imobiliários ampliando o meio urbano e o comércio dependente de atrações e eventos.
Essa realidade, que persiste desde metade do século passado, tem induzido o futuro da estância.
O passado de saúde termal sobrevive e o presente de lazer, resplandece.
O balneário é quase museu da água com baixa frequência de visitantes.
A praça recebe milhares de pessoas. Torna-se uma Disneylândia de máquinas velhas. O Encontro faz parte do calendário municipal. Outro, também, poderia ser acrescentado, as queimadas.
Elas acontecem todos os anos, nos mesmos morros, na mesma época e nos mesmos lugares. Os proprietários poderiam se inspirar nos fazendeiros do estado do Pará e criar o “Dia do Fogo”.
Se há fumaça há fogo, não é menos verdade que onde há fogo há especulação imobiliária e revela que o crescimento não respeita a sustentabilidade. Os murundus de cupins são visíveis após a queimada. São como pilotes demarcadores de terreno de futuro loteamento. Pode se imaginar, em futuro não tão distante, uma paisagem de Rocinha do Rio de Janeiro com obras nos morros água-lindoianos.
O filósofo americano Benjamin Franklin (1706-1790), definiu bem a situação. Afirmou que se as cidades forem destruídas e os campos conservados, elas ressurgirão. Mas, se queimarem os campos e conservarem a cidade elas não sobreviverão.
O raciocínio é idêntico, sem conservar morros, a água e o balneário, a Estância não sobreviverá. Perderá a condição de estância. Cairá no comum a se transformar em cidade fantasma com hotéis decadentes como são hoje o Cacique, o Lindóia e o das Fontes.
Águas de Lindóia é cidade SPA, abreviatura de “salus per aquam”, que significa “saúde pela água”.
Já é local que se destaca pelo Balneário e anexos aquáticos para oferecer tratamento de saúde, beleza e bem-estar. Há evidências científicas que garantem que a água, por suas propriedades físico-químicas naturais, tem potencialidade terapêutica.
O tratamento termal está integrado ao SUS desde 2006 e foi qualificado como “termalismo social” que denota acesso democrático às termas.
Em 2015 foi a vez de Águas de Lindóia instituir o PMPICS (Política Municipal de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde) no SUS, e hoje se desenvolve acanhada no Balneário.
O que antes era acessível apenas à população abastada, passou a ser ofertada a toda população.
O coordenador adjunto da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) do Ministério da Saúde, Paulo Rocha, esteve na cidade (22.08). O objetivo foi entrevistar profissionais locais para desenvolvimento de um curso introdutório da temática do termalismo. Este curso será ministrado por plataforma virtual ao público em 2020.
Inicia-se nova fase, os objetivos estão determinados.
Os primeiros passos sempre são cambaleantes, mas quem tem objetivo tem meio caminho andado.
Espera-se que algum candidato saia em defesa da causa da comercialização da água. E daí os recursos para tornar, economicamente, viável o desenvolvimento das práticas integrativas e complementares do termalismo social.
A redenção de Águas de Lindóia está no resgate de sua memória de cidade SPA.