TENDÊNCIAS ÁGUA-LINDOIANAS
O circo de horrores de palhaços incendiários voltou a dar espetáculo em nossa cidade no começo desta semana. Tudo indica que o serviço da queimada foi mal executado. A queimada havia atingido até o Hotel Bela Vista na semana passada. Reiniciou e avançou até o final do morro em direção ao Pelado na manhã de segunda (16.09)
Do outro lado do lago do Cavalinho Branco agora se vê o grande cinzeiro que se formou. É possível imaginar como são os morros do diabo que circundam o inferno.
Em meio às cinzas da mata se avista um ipê amarelo florido que resistiu à insana destruição. Símbolo do “setembro amarelo” a árvore sobrevivente representa o alerta natural à prevenção do suicídio. É a noção de que Águas de Lindóia está se suicidando seja pela ação de uns como pela omissão de outros.
Todo vale, do morro Pelado às Vilas Altas, foi dominado por densa fumaça por horas seguidas da manhã ao entardecer. A fuligem e o borralho das brasas, como tivessem expelidos da chaminé de gigantesca Maria Fumaça, invadiram casas e edifícios de apartamentos. Enquanto uns se apressavam em fechar janelas outros tomavam veículos para levar crianças e idosos em crise respiratória ao Hospital.
Não há cenário ou descrição mais paradoxal e incoerente que essa que se expõe para expressar o que seja estância hidroclimática, clima de altitude, cidade saúde, como se vangloria Águas de Lindóia.
Águas de Lindóia é tudo que de se diz de positivo sobre ela, suas qualidades naturais exuberantes são inegáveis, mas está sendo traída. Há os que dela se aproveitam por terríveis ambições pessoais, cegos por ganhos individuais, provocam prejuízos incalculáveis à coletividade e à natureza. Não amam a cidade.
Ninguém acredita mais em toco de cigarro como sendo o causador das queimadas. O ato é deliberado, se repetirá todos os anos enquanto houver lenha pra queimar nos morros.
A queimada virou tendência nacional. Foi estimulada pelo presidente e pelo ministro do Meio Ambiente, para os quais as florestas devem ter solução capitalista, são suas as palavras.
O apoiador dessa doutrina em nossa cidade pode ser condecorado pelos água-lindoianos com o título de “Inimigo Nº 1”. Aliás, já passa do tempo de realizar essa eleição.
Porque a cobertura florestal, em si mesma, é obrigatória para a cidade. A única providência possível, inalienável e inadiável é a conservação e reflorestamento para manter o padrão e continuar sendo estância hidroclimática.
A teoria do governo de queimar e desmatar para formar pastos de criação de gado e desenvolver os garimpos de minérios e pedras preciosas não se adapta à realidade local.
Está visível aqui os empreendimentos imobiliários, loteamentos, construção civil e comércio desenvolvidos em áreas que são, naturalmente, de proteção ambiental.
“A economia que destrói o meio ambiente gera miséria”, foi o chamado mundial feito pelo Papa Francisco, recentemente. Esse princípio sim se adapta à realidade de Águas de Lindóia. A cidade irá falir se destruir a natureza.
O ribeirão Água Quente que abastece a cidade e a própria água do Balneário correm risco de secar de modo permanente. Sem matas as águas não são retidas e não se infiltram para recuperação do lençol freático. Não é ser pessimista se esta sina está confirmada por geólogos. O morro do Cruzeiro ligado ao morro Pelado formam a bacia de recarga do aquífero que funciona como caixa d’água. Sem essa reserva subterrânea não surge a água na superfície. Essas áreas necessitam ser de proteção permanente.
A questão ambiental, cada vez menos sustentável, gera outro conjunto de danos na área social a provocar o aumento da miséria e da desigualdade social.
O futuro está nas prioridades da dimensão ambiental e dimensão social como fundamentos de um projeto de nova mentalidade na Estância Azul.