A MAIOR CORRUPÇÃO

A MAIOR CORRUPÇÃO

 

Irmã Dulce foi canonizada este mês (13), passou a se chamar “Santa Dulce dos Pobres” e se consagrou como a primeira santa brasileira.

O fato é significativo independentemente da religião.

Os ateus não acreditam em santos, mas não podem negar a existência de pobres. O mesmo pode se afirmar para as religiões protestantes e pentecostais que não creem em santo católico.

Pobres existem e são muitos.

As pesquisas como a do Banco Mundial divulgada em abril deste ano alerta para o aumento da pobreza no Brasil. Segundo esse relatório há 43,5 milhões de brasileiros na pobreza atingindo a 21% da população.

Entre eles está a pobreza extrema que são os que vivem com menos de R$ 140 mensais e já atingem a 13,2 milhões de brasileiros, segundo o Cadastro Único do Ministério da Cidadania.

Águas de Lindóia não está fora do mapa, 26,3% da população ativa recebe menos que ½ salário mínimo mensal (Censo de 2010). O Cadastro Único do programa de Bolsa Família, que atende água-lindoianos em condições de extrema pobreza, revela que há 1.052 famílias inscritas. A cobertura do programa atinge a 42% e atende a apenas 293 famílias, informa o relatório (Ministério da Cidadania, 01.10.2019). A estimativa de famílias pobres no município ultrapassa a 6% da população.

A escolha do nome da santa se deve a vida dedicada aos pobres do Brasil. Ao ser a primeira santa brasileira e, ao fazer referência aos pobres, revela a realidade social desumana da nação. Na ausência de política públicas resta aos pobres rezar e implorar para Santa.

O Arcebispo de Aparecida Dom Orlando Brantes, em sua prédica no dia da Padroeira do Brasil (12), não confia na solução da pobreza apenas pela oração. Chamou a causa da pobreza de “dragão do tradicionalismo”, concluindo que a “direita é violenta e injusta”.

A reação dos tradicionalistas foi o comum de sempre, rotulando de comunista Dom Orlando e o próprio Papa Francisco.

A direita é mundial, não apenas a brasileira. Ela está em todo mundo ocidental democrático

O modelo destacado da direita está no Chile.

Lá existe tanta pobreza como aqui, 50 % da população vive com 300 mil pesos mensais (1.650 reais brasileiros). O Modelo da reforma trabalhista de Temer e previdenciária atual foi inspirado nesse país que transforma adultos em idosos pobres.

O segredo do sucesso do capitalismo liberal de mercado implantado no Chile e que se pretende para o Brasil é a produção de pobres em série.

Somente desse modo se garante o sistema financeiro (bancos e donos de capital) pelo aumento e concentração do capital (dinheiro) e repasse os custos para a população (assistência médico-hospitalar, educação e o sistema previdenciário de capitalização, cada um cuida de si).

A sociedade se torna dividida entre poderosos de sempre, privilegiados (políticos, altos funcionários e apaniguados), classe média em decadência e maioria de pobres e miseráveis.

A elite chilena não reconhece a disparidade cada vez maior na sociedade. O desprezo aos cidadãos atingiu ao limite provocando a insatisfação popular que incendeia o país. Tal é a experiência traumática que hoje vive que coloca em risco a democracia e ameaça de ditatura.

O Brasil está entre os mais desiguais do planeta. Há acúmulo de frustrações às sucessivas promessas de melhora. A desigualdade vem subindo e atingiu ao maior patamar desde 2012. Pobreza é reflexo da desigualdade social.

Somente política públicas estruturadas, como sugerem os ganhadores do Prêmio Nobel de Economia de 2019, podem reduzir a desigualdade e a pobreza evitando a turbulência e a revolta da população.

O combate à corrupção é necessário, mas por mais espetacular que seja não resolve o problema do país.

A verdadeira corrupção é a desigualdade social, esta é a maior corrupção do país.