O assassinato arquitetônico do Crusp

Um histórico do conjunto habitacional projetado pelos arquitetos Eduardo Kneese de Mello, Joel Ramalho Júnior e Sidney de Oliveira. Este documento (anexo em PDF), escrito pelo geólogo e ex-residente do Crusp (1964-1968) Álvaro Rodrigues dos Santos, descreve com várias ilustrações a mutilação da arquitetura original do conjunto residencial dos estudantes. Abaixo um texto extraído da introdução ao documento anexo:

O Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo – Crusp -- situa-se no Campus da Cidade Universitária, Bairro do Butantã, na capital paulista.Crusp - estrutura original
Representou, desde sua concepção arquitetônica original, a mais ousada e inspirada experiência de oferecimento de moradia a estudantes que dela necessitasse por sua condição econômica e social e por seu distanciamento de sua cidade de origem.
Abrigando cerca de dois mil estudantes em seus diversos blocos o Crusp propiciou, em especial durante seu período inicial, entre 1963 e 17 de dezembro de 1968, data da invasão militar que culminou na triste e definitiva diáspora dos cruspianos, uma pioneira, única e riquíssima experiência existencial a seus moradores e freqüentadores.
Estudantes dos mais diversos cursos universitários, dos mais diversos locais de origem (no país e no exterior), das mais diversas visões de mundo, valores individuais e culturas familiares, expressando o verdadeiro espírito “universitário”, integraram-se fraternalmente conformando uma nova cultura de vivência coletiva, criando hábitos, costumes, inovando permanentemente em formas de rica coexistência, superando dificuldades e carências logísticas e materiais, tendo como fator unificador a percepção do Crusp como seu novo lar e o espírito de apoio mútuo, de profundo sentido comunitário, como elemento comum em suas inter-relações.
O Crusp em sua fase inicial, 1963-1968, marcou profundamente a vida pessoal e profissional de seus moradores e frequentadores. Mesmo entre aqueles que hoje optam por diferentes opiniões sobre os mais diversos assuntos, há algo maior que os une, e esse algo maior foi a maravilhosa experiência existencial vivida enquanto cruspianos. Do ponto de vista profissional o fato dessa vivência ter proporcionado a proximidade de uma enorme diversidade de especializações, juntando em um mesmo convívio estudantes de engenharia, direito, geologia, geografia, história, ciências humanas, economia, arquitetura, biologia, medicina, odontologia, etc., revelou em uma rica prática os incríveis ganhos trazidos por uma visão interdisciplinar das questões profissionais colocadas a cada um no exercício de suas carreiras.