O MORADOR E A CASA.
Não há o que se possa fazer e, aparentemente, não tem a ver com a vida água-lindoiana o aumento do dólar.
O dólar atingiu ao valor mais alto desde o fim do governo de Fernando Henrique Cardoso (2002). A consequência imediata recai sobre as viagens ao exterior.
Não é preocupação para a população da Estância Azul.
A grande maioria nem sonha com viagens internacionais (54% dos trabalhadores ganham até um salário mínimo, 26% menos que ½ salário mínimo, segundo o IBGE. Sem contar, é claro, o desemprego).
Já o aumento do preço da gasolina foi sentido pela população.
Deve-se esperar impacto ainda maior nas camadas menos favorecidas com aumento do gás de cozinha quando vier.
Não há relação entre o dólar e o preço dos alimentos, exceto os que usam farinha de trigo como o pão, pois o trigo é importado.
O maior efeito colateral foi o preço da carne vermelha.
Os frigoríficos aumentaram a exportação da carne. A venda para o exterior, com preço até 20% abaixo que o do consumo interno é mais compensador, pois cada dólar vale mais que 4 reais. Outro modo de dizer, o preço que o brasileiro paga para comprar 1 kg de carne daria para comprar mais de 4 kg no estrangeiro.
A carne ficou 26% mais cara pelo aumento das exportações para a China Comunista. Representa a entrada de bilhões de dólares na economia nacional.
A melhora da economia gera a expectativa de melhora da vida do cidadão comum. Infelizmente, é lenda.
Com base no salário mínimo, cujo reajuste pela inflação foi de apenas 3,9 %, a dificuldade em adquirir carne aumentou e, com isto, a qualidade de vida pirou.
Passou-se a viver nova realidade depois da sentença declaratória da Ministra da Agricultura Tereza Cristina: “O preço da carne não vai voltar ao patamar anterior”. A lei liberal que regula o consumo não é igual para todos e não terá efeito sobre os 10% da população que ganham 3 mil reais ou mais.
A sentença da ministra condena apenas a faixa da população descrita no início deste artigo que terá, como atenuante, consumir ovo e já virou piada.
Faz-se esse comentário para esclarecer o mais grave problema do país que é a desigualdade social, uma das maiores do mundo, e nossa Estância não é uma exceção.
Outra questão defendida pelos ignorantes em política econômica, é a de que para resolver a desigualdade é necessário “fazer o bolo crescer para depois distribuí-lo”. Ou seja, a economia precisa crescer para haver justiça social.
Como explicou o professor Delfim Neto (FSP, 27/11), isto só é possível em regimes de economia centralizada, controlada pelo Estado, como a da antiga União Soviética ou a chinesa atual. No sistema neoliberal de livre iniciativa, como a do Brasil, a fé que se tem no crescimento do “bolo” é outra lenda. Ele não é feito para ser dividido.
Há necessidade de se repensar a política econômica que durante todo o tempo não trouxe soluções, mas mais e mais problemas sociais a cada novo dia.
A solução começa no município.
A gestão municipal tem que estar voltada para a política econômica nacional e desenvolver ações locais efetivas de inclusão social.
As crianças não podem ser vítimas da desigualdade social. Todas elas precisam receber a mesma condição de igualdade de oportunidade para se desenvolver.
É apenas o exemplo de que a questão social deve ser prioridade na gestão do município se o objetivo é ter uma cidade, um estado e um país melhor e mais justo.
A casa está arrumada com o excelente projeto do novo Plano Diretor do município de Águas de Lindóia que será aprovado pelos vereadores no próximo ano.
Falta agora dar o próximo passo que será o[CA1] de dar vida decente a todos moradores que irão ocupa-la.
C. Antunes
Águas de Lindóia.