MULHER - ASSUNTO QUE MERECE ATENÇÃO
Pela projeção do Censo 2010 a população feminina de Águas de Lindoia deve contar hoje com aproximadamente 10 mil mulheres.
Naquele ano haviam meninas com até 15 anos (20%); mulheres com idade compreendida entre 15 e 64 anos (70%) e idosas acima de 64 anos (10%).
A taxa de fecundidade (número de filhos por mulher) vem caindo a cada ano e já estava em 1,5, a taxa de envelhecimento aumentou para 10,77, assim como, a esperança de vida atingiu a 75,8 anos.
Pelo raciocínio em 2020 há menor número de meninas até 15 anos e maior número de idosas com mais de 64 anos.
No Centenário, em 2038, Águas de Lindoia terá um perfil predominante de mulheres de terceira idade e idosas.
Em virtude do desemprego e baixa renda dos últimos anos não tem havido mobilidade social. Isto é, está cada vez mais difícil melhorar o padrão de vida, a tendência é de empobrecimento.
A situação precária produz efeitos negativos, principalmente sobre as mulheres já a partir de seus 15 anos de idade.
A principal força de trabalho, sem o qual a cidade entraria em colapso é o trabalho doméstico realizado por essas mulheres e meninas, pois não é remunerado e não tem direitos básicos como o seguro-desemprego ou férias.
As tarefas domésticas garantem que todos sobrevivam ao cuidar da casa, cozinhar, lavar, passar, cuidar de crianças, de idosos, de doentes ou portadores de alguma deficiência. Essa multitarefa é gratuita, não havendo nenhuma compensação financeira em troca.
Seguramente, os capitalistas possuem um sócio invisível que é a mulher que realiza os trabalhos domésticos. Na ausência desse trabalho grátis o atual sistema econômico entraria em colapso.
No entanto, o Universo feminino é sofrido e dominado por estratégias de sobrevivência.
Estando casada ou com um companheiro, a participação masculina nas tarefas domésticas é de apenas 1%; 71% das mulheres com filhos menores de 12 anos e entre solteiras ou viúvas, o apoio vem de outra mulher, a mãe (Coluna Mônica Bergamo, Folha de S. Paulo, 13.12.2012).
Nessa dinâmica social nascer mulher no Brasil é o mesmo que contrair uma dívida que nunca se paga.
Essa situação foi criada, principalmente, após a abolição da escravatura no Brasil, afirmam os especialistas. Se assim é, se pode considerar o trabalho doméstico continuação da forma de exploração do trabalho feminino como uma herança do período escravagista.
Está se diante de um desarranjo social visível, também, em Águas de Lindoia a mulher com o ônus do trabalho doméstico tem menos tempo para ter acesso à educação de qualidade e para alcançar o trabalho formal remunerado.
O aumento do custo do aluguel está obrigando as mulheres a procurarem trabalho remunerado para suprir as necessidades de sobrevivência material dobrando sua jornada em casa e fora dela. Tanto mais preocupante é que a população feminina lindoiense está envelhecendo e mulheres com mais de 50 anos não encontram trabalho.
Se há é trabalho é precário, normalmente, subalterno como cozinheira, faxineira e serviços domésticos em geral (em todo o Brasil, 80% o trabalho doméstico é a principal fonte de emprego entre as mulheres).
No ranking da OIT (Organização Internacional do Trabalho, convenção 189 de 26.02.2018), o Brasil é o maior empregador mundial de serviço doméstico e Águas de Lindoia tem contribuído com sua parcela.
Não é mais concebível construir praças e faltar recursos para poder atender o Bolsa Família.
É ter visão social errada e preconceituosa achar que ajudar famílias pobres é criar cultura de dependência ou de vagabundos que vivem de assistência do poder público.
A relação entre desigualdade social, pobreza e trabalho doméstico é direta. A desigualdade é feminina, é a ponta extrema.
O trabalho doméstico deve ser compensado, uma vez que executa obrigações que deveriam ser realizadas pelo Estado e estão previstas pela Constituição Federal.
Colocar no centro das políticas públicas municipais programas de assistência feminina é uma inovação de consenso social para que Águas de Lindoia seja justa e moderna.
Celso Antunes
Águas de Lindoia